quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A eleição dos Doze nos Sinopticos: Mt 10, 1-4; Mc 3, 13-19; Lc 6, 12-16

Mt 10, 1-4

Jesus chamou doze discípulos e deu-lhes poder de expulsar os espíritos malignos e de curar todas as enfermidades e doenças. São estes os nomes dos doze Apóstolos: primeiro, Simão, chamado Pedro, e André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Zelota, e Judas Iscariotes, que o traiu.

Mc 3, 13-19

Jesus subiu depois a um monte, chamou os que Ele queria e foram ter com Ele. Estabeleceu doze para estarem com Ele e para os enviar a pregar, com o poder de expulsar demónios. Estabeleceu estes doze: Simão, ao qual pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, irmão de Tiago, aos quais deu o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão; André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que o entregou.

Lc 6, 12-16

Naqueles dias, Jesus foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. Quando nasceu o dia, convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de Apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor.

Os três textos acima relatam a eleição dos Doze. Apesar de relatarem o mesmo facto, os textos tem diferenças significativas. Em comum tem o narrador ser extradiegético, a acção, isto é, a eleição dos Doze partir de Jesus, serem Doze os escolhidos (veremos as semelhanças e diferenças nas listas mais adiante).

Embora, como dissemos a eleição dos Doze parta de Jesus, há diferenças entre os textos na forma como ela decorre. Nos textos nada nos é dito muito quanto ao local em que ocorre a eleição dos Doze. Mateus não nos diz nada sobre o local, Marcos apenas menciona um monte, Lucas menciona o monte (artigo definido). Mateus e Marcos nada dizem também acerca do tempo, Lucas só menciona que Jesus terá passado a noite a orar e que eleição dos Doze terá sido ao amanhecer.

A acção de Jesus

Mateus diz-nos que Jesus chamou doze discípulos.

Marcos é mais explícito. Diz que Jesus «chamou os que Ele queria» (presume-se que seriam discípulos) e que «foram ter com Ele». Assim, Marcos enfatiza que se trata de uma escolha de Jesus, a qual é respondida.

Em Lucas a acção de Jesus na eleição dos Doze tem particularidades próprias a este evangelista. Assim, Lucas é claro quanto ao facto de Jesus ter antecedido esta acção por um tempo de retiro, de dias, e de uma noite em particular «a orar a Deus». De seguida diz que ao amanhecer do dia Jesus convocou os discípulos, escolheu doze entre eles, aos quais deu nome de apóstolos.

O que são estes Doze

Mateus diz que os Doze receberam de Jesus o poder de expulsar os espíritos malignos, curar todas as enfermidades e doenças. Depois diz que estes são dos doze Apóstolos.

Marcos diz que Jesus estabeleceu os Doze para estarem com Ele (nem Mateus nem Lucas mencionam este estar com Jesus), para os enviar a pregar com o poder de expulsar demónios. Temos aqui duas particularidades importantes sobre os Doze: estarem com Jesus e a finalidade desta escolha pessoal de Jesus relacionava-se com envio e a pregação depois de estarem com eles. Em comum com Mateus tem o poder de os Doze expulsarem demónios.

Apesar de Lucas não nos dizer nada sobre qual a missão destes doze apóstolos, a eleição destes no texto de Lucas tem particularidades que nos ajudam a compreender o que são estes doze. Antes de mais, a eleição dos doze brota da oração de Jesus e da sua intimidade com Jesus. Depois é realizada ao amanhecer, com tudo o que isso possa significar. Diz-se que Jesus convocou os discípulos e que escolheu doze entre eles, ou seja, são destacados entre os discípulos, o que confere a estes doze uma identificação distinta dos restantes discípulos. O que está bem patente no nome com que Jesus designa o conjunto, apóstolos, que significa enviados.

A Lista dos Doze/Quem são estes Doze

Em todas as listas aparece em primeiro lugar Simão. Mateus diz que também é chamado Pedro. Marcos e Lucas são mais explícitos, dizem que o nome de Pedro lhe foi dado por Jesus.

Em último lugar, em todas as listas, aparece Judas Iscariotes, sendo mencionado sempre que foi quem traiu Jesus. Marcos diz que foi quem entregou Jesus.

Outras duas semelhanças entre as duas listas é Filipe aparecer sempre em quinto lugar e Bartolomeu em sexto lugar.

André também tem um proeminente. Em Mateus e Lucas aparece em segundo lugar, sendo que estes dois evangelistas também nos explicitam que era irmão de André.

Tiago e João são outros dois destacados na lista. Em Mateus, Tiago aparece-nos em terceiro lugar, após Simão e André, é chamado filho de Zebedeu. João, seu irmão, como é indicado, aparece em quarto lugar. Em Lucas, Tiago aparece, tal como em Mateus, em terceiro lugar e João em quarto, mas não é indicado o seu parentesco. Em Marcos, contrariamente aos outros dois sinópticos, Tiago (também designado como filho de Zebedeu) aparece-nos em segundo lugar na lista dos Doze, após Simão, seguido do seu irmão João. Mas é acrescentado que Jesus lhe «deu o nome de Boanerges, isto é, filhos do trovão».

Em Mateus aparece-nos em sétimo na lista do Doze, Tomé, seguido de Mateus, que é chamado «o cobrador de impostos». Em Marcos e Lucas, aparece em sétimo na lista, Mateus, sobre o qual não é dito mais nada. Nestes dois evangelistas em oitavo lugar aparece-nos Tomé.

Nas três listas aparece em nono lugar Tiago, filho de Alfeu.

Em Mateus e Marcos aparece em décimo lugar Tadeu. Em Lucas, por sua vez, em décimo lugar Simão, que o narrador diz que era «chamado o Zelote».

Em Mateus e Marcos aparece em décimo primeiro lugar Simão. Em Mateus chamado o Zelota, tal como em Lucas, em Marcos chamado o Cananeu.

A maior discrepância entre as listas, ou a única até, considerando que as outras são pormenores, está o discípulo que Lucas coloca em décimo primeiro lugar, Judas, filho de Tiago. Não aparecendo Tadeu, que aparece em Mateus e Marcos, em décimo lugar na lista.

O Discurso

O discurso dos três evangelistas coincide no facto de porem no centro da acção a escolha dos Doze por parte de Jesus, divergindo depois na relação de Jesus com os Doze. Assim, Mateus é o mais impessoal, diz apenas que Jesus chamou os Doze discípulos. Marcos é o que mais acentua a dimensão da escolha pessoal de Jesus. Por isso diz que Jesus escolheu os que Ele queria e para estarem come Ele. Esta relação pessoal entre Jesus e os Doze está bem presente ainda quando Marcos nos diz que Simão, Tiago e João recebem de Jesus um novo nome. Lucas, embora não acentue tanto como Marcos a relação pessoal de Jesus com os Doze, ao colocar Jesus em oração uma noite antes, realça como se tratou de um momento importante para Jesus. Ademais, Lucas coloca explicitamente, entre Jesus e a escolha dos Doze, Deus, ao mencionar que antes de escolher os Doze Jesus orou a Deus.

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