sábado, 2 de outubro de 2010

Análise Narrativa 2

Sequência Narrativa de Mt 21, 23-23,1-39


Em primeiro lugar importa ter em consideração que o texto bíblico quando foi “posto” por escrito não estava organizado em capítulos nem em versículos, tal organização é produto de autores do século XIII e XVI (Cfr., MARGUERRAT, Daniel, BOURQUIN, YVAN, Cómo leer los relatos bíblicos, Ed. Sal Terrae, p.53), mas que a narração bíblica, no caso evangélica, é composta por um conjunto de episódios longos ou breves aos quais se dá o nome de micro-relatos, sendo que o conjunto destes micro-relatos compõe uma sequência narrativa que faz parte com os micro-relatos do macro-relato que é o Evangelho em si.
Ora, para a análise e consideração do que estrutura uma sequência narrativa importa ter presente que uma sequência narrativa caracteriza-se por unir entre si um conjunto de micro-relatos debaixo de um tema comum ou de uma personagem principal (Cfr., Cómo leer los relatos bíblicos, p.61). Assim temos sequências temáticas (e.g. as pragas do Egipto Ex 12,1-15-20) e sequências com base no personagem principal (e.g. a história de Débora no livro dos Juízes em 4,1-5,31). Mas este duplo aspecto de uma sequência não tem de ser exclusivo, pois podemos ter na mesma sequência o mesmo tema e a mesma personagem principal.
Partindo então deste pressuposto pensamos que em Mt 21,23-22-14 estamos perante uma sequência narrativa temática com um personagem principal. Se considerarmos os vários aspectos por meio dos quais uma sequência temática pode ser captada (Cfr., Cómo leer los relatos bíblicos, pp.62-63) a começar pela delimitação do conjunto de micro-relatos que a compõem, que por sua vez são analisados segundo o método próprio para a delimitação de um micto-relato – situação inicial, nó, acção transformadora, desenlace e situação final (Cfr., Cómo leer los relatos bíblicos, pp.72). Acerca da sequência em questão constatamos em primeiro lugar que esta sequência é composta de 9 micro-relatos, a saber: 1º) 21, 23-27; 2º) 21, 28-32; 3º) 21, 33-41; 4º) 21, 42-46; 5º) 22, 1-15; 6º) 22, 16-22; 7º) 22, 23-33; 8º) 22, 34-46; 9º) 23, 1-39. Em seguida constatamos também que a personagem principal e redonda é Jesus que entra no Templo. Ora, aproximam-se d'Ele os príncipes dos sacerdotes e os anciãos, aqui como personagens secundárias e opositoras, interrogam-n’O sobre a sua autoridade para ensinar e Jesus responde-lhes por meio de um conjunto de parábolas e citando a Escritura como é próprio de São Mateus (Mt 21, 23-22-14). Existem ainda ao longo da sequência outras personagens secundárias opositoras - os fariseus - aos quais Jesus se dirige. Mas encontramos os discípulos, personagens adjuvantes, e a multidão à qual Jesus se dirige. Percebemos ainda que nesta sequência narrativa o lugar, o tempo, o tema bem como as personagens, principal e as secundárias, nestes capítulos e versículos não mudam. Assim temos que esta sequência decorre no mesmo espaço – Templo – e no mesmo tempo que ao que parece é de manhã, segundo o versículo 18 do capítulo 21, pois o Evangelho diz-nos que o depois de ter chegado a Jerusalém, ter ido ao Templo e após ter passado a noite em Betânia (Mt 21, 1), na manhã do dia seguinte secou uma figueira porque esta não tinha fruto (Mt 21, 18-22) e depois, aqui está o nosso texto, foi para o Templo do qual só sairá no capítulo 24 versículo 1.
Relativamente ao tema desta sequência narrativa, que podemos considerar linear, parece-nos que este diz respeito à rejeição, por parte dos príncipes dos sacerdotes, dos anciãos e dos fariseus, do Reino de Deus do qual Jesus é o anunciador enviado pelo Pai, sendo ao mesmo tempo o Messias (o Cristo) anunciado pelo Baptista mas que será rejeitado por eles. No entanto é aceite pelos discípulos, pecadores e publicanos, e por muitos dos que compõem a multidão, por isso tomarão parte no Reino. Ora, este tema é bem reiterado e está presente a seu modo em cada um dos micro-relatos presentes nesta sequência narrativa quer quando se questiona a autoridade de Jesus para ensinar sobre o Reino quer quando Jesus responde por meio de parábolas falando de Si e do que Lhe vai acontecer, ou seja, como os grandes de Israel os rejeitam e matam por anunciar o Reino de Deus do qual Ele é a pedra angular, mas resscuscitando dos mortos os que crêem n’Ele tomarão parte no com Ele no Reinado de Deus.
Outro momento desta análise da sequência será a consideração de um micro-relato segundo o esquema quinário proposto pela narratologia bíblica para os textos da Escritura. Destacaremos ainda nesta análise o enquadramento espácio-temporal do micro-relato que focaremos. Esta análise é feita em:
Análise Narrativa 2.1 – Micro-relato Mt 22, 1-14 da Sequência Narrativa de Mt 21, 23-22,1-15.

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