terça-feira, 5 de outubro de 2010

Esquema quinário

Mt 8, 28-34

28Chegado à outra margem, à região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. 29Vendo-o, disseram em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?» 30Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande vara de porcos. 31E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» 32Disse-lhes Jesus: «Ide!» Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas.
33Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. 34Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região.


1. Situação inicial: 28Chegado à outra margem, à região dos gadarenos

2. : vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho.


3. Acção transformadora: 29Vendo-o, disseram em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?» 30Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande vara de porcos. 31E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» 32Disse-lhes Jesus: «Ide!»

4. Desenlace: Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas.

5. Situação final: 33Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. 34Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região.


A situação inicial situa o episódio geográfica e contextualmente. O nó apresenta o encontro de Jesus com dois possessos muito ferozes. A acção transformadora é a reacção de reconhecimento de Jesus como Filho de Deus, por parte dos possessos. O desenlace é a manifestação do poder de Jesus sobre os demónios. A situação final é a reacção dos guardas que assistiram ao acontecimento e a reacção de toda a cidade, mediante o testemunho deles.

Trata-se de uma intriga simultaneamente de resolução e de revelação. De resolução porque Jesus cura os possessos (embora ninguém lhe tenha pedido isso). A intriga de revelação é peculiar, porque são os demónios que reconhecem Jesus abertamente como Filho de Deus, embora O rejeitem, enquanto que toda a cidade não só não O reconhece como também O rejeita.


As personagens são:
Jesus, que pela sua centralidade, pelo seu poder é uma personagem redonda.
Os dois possessos são personagens redondas porque sofrem uma transformação profunda. São personagens adjuvantes.
A vara de porcos é obviamente uma personagem colectiva plana, por serem animais e, como tal, passivos. Não são nem adjuvantes nem opositores.
Os demónios são personagens redondas, pois apresentam uma grande densidade psicológica. Entram numa relação de tensão dramática com Jesus. No confronto com Ele e com a sua divindade, reiteram a sua posição de rejeição a Ele. São personagens opositoras.
Os guardas são personagens planas, porque são apresentados como simples mensageiros, ainda que tivessem ficado profundamente impressionados e não tivessem relatado os acontecimentos de um modo totalmente neutro e imparcial, como parece mais provável. Tanto podem ser opositores como adjuvantes. Isso não é dito com clareza no texto. O facto de a cidade em peso se ter oposto a Jesus não pode ser imputado aos mensageiros, porque a turba é composta por pessoas concretas, dotadas de liberdade e de responsabilidade individual, de modo que estas não podem remeter para outrem a responsabilidade pelos seus actos. Portanto, mesmo que os guardas sejam personagens opositoras, isso não justifica a reacção da multidão. Desta forma, a reacção da multidão não pode funcionar como um indicador da oposição ou ajuda dos guardas.
Toda a cidade é uma personagem redonda porque toma a iniciativa de sair ao encontro de Jesus, ou seja, de sair de si, mas pede-lhe que se afaste, isto é, que a deixe continuar fechada em si. Há um claro dinamismo e tensão dramática nesta posição, por mais impulsiva que possa ser. É uma personagem opositora.

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