terça-feira, 5 de outubro de 2010

001| SINÓPTICOS

O conteúdo dos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas é semelhante, porque tanto os acontecimentos que narra como a ordem apresentada é semelhante.
Podemos ao ler os evangelhos que o ministério de Jesus desenvolve-se em três cenários, Galileia, a caminho de Jerusalém e em Jerusalém.
Mas em Lucas comparando com Mateus, coincidem em incluir uma série de tradições não presentes em Marcos e incluir um relato sobre a infância de Jesus, ainda que com um conteúdo diferente.
Um último apontamento, o Evangelho de Lucas é parte da obra mais extensa do Novo Testamento, a obra Lucana, que compreende em si o Evangelho e os Actos dos Apóstolos.

Depois duma breve introdução aos Sinópticos. O texto que se segue, tem como objectivo analisar o episódio da Tempestade acalmada dos Evangelhos Sinópticos (Mt 8,23-27; Mc 4,35-41; Lc 8,22-25).

O relato da Tempestade acalmada de Mateus é antecipado pelo tema do seguimento e condições para seguir Jesus (8, 18-22), ou seja “o abandono deste mundo, a ruptura com a vida anterior”[1] e seguir uma vida nova, vida que lhe é dada radicalmente em cada momento pelo Senhor “da pobreza, do abandono e da impotência. Não tem onde repousar a cabeça. Apesar de tudo e sem oferecer vantagem externa, Jesus chama.”[2]
Seguindo Jesus voltam os milagres. Os discípulos seguem Jesus no perigo, na tormenta do mar. O seguimento é perigoso, no seguimento os perigos são imensos, mas Jesus é ainda mais imenso. Porque Jesus vence o poder maligno (dificuldades). «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?» (Mt 8,27).
Mateus com este relato mostra que a realidade deste mundo se mostra hostil contra os seguidores de Cristo, e o mar alvoraçado é a imagem dessa ameaça. Mas este relato mostra que o poder que Messias dá aos seus seguidores é superior as dificuldades deste mundo, «Senhor, salva-nos, que perecemos!» (Mt 8,25). E com a sua força “começa o homem a ser livre”[3], porque Ele é o Senhor.

No relato da Tempestade acalmada, Marcos tem a intenção de demonstrar que “o anúncio do Reino de Deus não se reduz ao anúncio da boa nova, mas também que leva consigo os benefícios dessa proclamação”[4]. Por isso segundo o evangelista, Jesus é a salvação dos homens de todas as ameaças que podem alienar a sua vida.
O segundo aspecto deste relato de Marcos é que este relato é um relato dum crente que procura Deus fonte da sua fé e Jesus é essa fonte. E para Marcos como para os restantes evangelistas o factor essencial do benefício milagroso é a fé em Cristo. Outra característica de Marcos é provar a íntima relação deste evangelho acerca do Messias com a antiga tradição, como demonstra a transposição para o evangelho da imagem divina do criador em luta contra o mal (neste caso o elemento que personifica o mal é o mar), e que Cristo, Messias Divino não é um profeta e nem se comporta como os antigos profeta que pediam a Deus através das orações para que se dignara dominar os elementos adversos, o próprio Jesus, Filho de Deus é ele domina e controla os elementos da Terra.

A passagem de Lucas 8,22-25, situa-se na actividade de Jesus na Galileia (4,14-9,50) e mais precisamente numa subdivisão compreendida em 8,22-48.
Em 8,22 com uma breve introdução cronológico – topográfica, “Certo dia, Jesus subiu com os seus discípulos para um barco e disse-lhes: «Passemos à outra margem do lago.»”, acontece uma “mudança na matéria e narram-se quatro milagres, bem tratados entre si numa sequência geográfica – cronológica.”[5]. Para Lucas importa revelar e demonstrar as duas facetas de Jesus, profeta e salvador. Mas essas facetas têm origem nas obras. E é aqui que se situa a passagem da Tempestade acalmada. Nas obras ou milagres de Jesus, porque para Lucas o profeta-salvador conhecer-se-á pelas suas obras.

Os evangelistas acerca deste episódio (Tempestade aclamada) “mostram que a fé em Jesus tem a força para desbravar o mar”[6]. E segundo a tradição bíblica suponha-se que as forças demoníacas assentavam nos abismos (Sl 106,9), ou seja Cristo é o Senhor de tudo e tudo lhe obedece. E também está bem presente e é intenção dos autores dos evangelhos sinópticos que Jesus livra do caos todo aquele que n’Ele se refugia e recorre, «Senhor, salva-nos, que perecemos!» (Mt 8,25).

José Manuel Pasadas Figueira Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

Notas:
1. J. PIKAZA, Teologia de Mateus, Ed. Paulinas, São Paulo, 1978, 56
2. Ibidem, 55
3. Ibidem, 58
4. J. RUIZ, Evangelio según Marcos, EVD, Estella, 1988, 109
5. R. MONASTERIO – A. CARMONA, Evangelios sinópticos y Hechos de los Apóstoles, Estella, EVD, 2001, 296
6. A. SALAS, Evangelios Sinópticos, Ed. Paulinas, Madrid, 1993, 77

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