domingo, 31 de outubro de 2010

O Arrependimento de Pedro e de Judas por Pasolini e Bach



No filme de Pasolini Evangelho Segundo S. Mateus há um contraste entre o arrependimento de Pedro e o de Judas, marcado pela banda sonora. Quando Pedro nega Jesus ouve-se a parte instrumental da ária Erbarme dich da Paixão Segundo S. Mateus, de Bach, que o acompanha durante todo o percurso do seu arrependimento, da sua humilhação, das suas lágrimas. Esta ária na Paixão Segundo S. Mateus de Bach corresponde exactamente ao mesmo momento da vida de Pedro, funcionando como uma espécie de introspecção de Pedro após a tríplice negação de Jesus. É um momento não tanto ilustrativo, mas mais contemplativo, de paragem da narrativa e de aprofundamento interior. Nas Paixões de Bach, a história é contada pelo narrador (evangelista e personagens que aparecem no evangelho) por meio de recitativos e pequenos coros em que é posto em música o texto do evangelho, como forma de fazer a história avançar. Este ritmo narrativo é interrompido pelas árias, coros e corais como momentos contemplativos, que são também os momentos em que brilham os solistas e o compositor, à maneira do que acontecia na ópera barroca.

O arrependimento de Judas, no filme, passa pela devolução do dinheiro – em que se ouve uma melodia de blues, cantada mas sem palavras –, e pelo percurso que o leva ao suicídio, que é marcado pela total ausência de música. Só se ouve o vento e os seus passos. Há um silêncio esmagador, porque é o silêncio do vazio, do desespero, da ausência, da negação. Neste momento dramático, ao contrário do que nos acontece habitualmente, a sua vida não tem banda sonora.

Já o caminho de Pedro é marcado por uma confiança expressa por esta música de Bach, que não apaga o silêncio interior, mas, paradoxalmente, a própria música, no próprio acto de emitir som, produz um silêncio orante, de plenitude, de escuta, de abertura.

Pasolini usa apenas a secção instrumental da ária. Tal como numa imagem o olhar é atraído para a figura humana (quando esta está presente), e desta para o rosto, e deste para os olhos, na música, o ouvido é atraído pela a voz (quando esta está presente). Além disso, quando são proferidas palavras há um desvio da atenção para tentar perceber o que está a ser dito. Ao optar por cortar toda a secção cantada, Pasolini concentra a atenção no sofrimento de Pedro sem o explicar por meio de palavras, mas também sem violar a sua intimidade. Não há nada de voyeurístico nem de exploração gratuita do sofrimento no modo como este momento é apresentado. A ausência da voz e das palavras funciona no plano musical como o afastamento da câmara que acontece no plano visual, por pudor, por respeito.

Esta secção instrumental desta ária de Bach já antes se tinha ouvido, concretamente num dos discursos de Jesus, Mt 6,25-34 (enquanto que os outros discursos foram feitos em silêncio de fundo):

25«Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? 26Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas?

27Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? 28Porque vos preocupais com o vestuário?

Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam! 29Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. 30Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé?

31Não vos preocupeis, dizendo: ‘Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’ 32Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. 33Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. 34Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.»

Também se ouve imediatamente depois de Jesus dizer que o seu jugo é suave e a sua carga é leve, pegando numa criança ao colo. Também quando vem ter com Jesus o jovem rico a quem Jesus diz que deixe os seus bens para O seguir; quando abençoa as crianças; no anúncio do abandono dos discípulos e da negação de Pedro; na oração de Jesus no horto e quando encontra os discípulos a dormir. E por fim nas negações e no arrependimento de Pedro.

É interessante notar que todas estas passagens têm em comum a confiança e o abandono nas mãos de Deus. Ao associar esta ária a estes momentos, Pasolini usa a música como um leitmotiv já não de uma personagem, como na música de Wagner ou de Puccini, por exemplo, mas de um tema. Assim, ao longo do filme, vão sendo apresentados prenúncios do tema da confiança que culmina nas lágrimas de Pedro, como expressão da atitude do discípulo com o qual o espectador é convidado a identificar-se no seguimento de Jesus.




Mt 26, 69-75: 69Entretanto, Pedro estava sentado no pátio. Uma criada aproximou-se dele e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Galileu.» 70Mas ele negou diante de todos, dizendo: «Não sei o que dizes.» 71Dirigindo-se para a porta, outra criada viu-o e disse aos que ali estavam: «Este também estava com Jesus, o Nazareno.» 72Ele negou de novo com juramento: «Não conheço esse homem.» 73Um momento depois, aproximaram-se os que ali estavam e disseram a Pedro: «Com certeza tu és dos seus, pois até a tua maneira de falar te denuncia.» 74Começou, então, a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem!»
No mesmo instante, o galo cantou. 75E Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar, me negarás três vezes.» E, saindo para fora, chorou amargamente.

Ária Erbarme dich:

Erbarme dich,

Mein Gott, um meiner Zähren willen!

Schaue hier,

Herz und Auge weint vor dir

Bitterlich.

Tem piedade,

Meu Deus, pelo meu pranto!

Vê,

Coração e olhos choram perante ti

Amargamente.


Já agora, o momento equivalente ao arrependimento de Judas na Paixão Segundo S. Mateus de Bach:



Mt 27,1-6: 1De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e anciãos do povo se reuniram em conselho contra Jesus, para o matarem. 2E, manietando-o, levaram-no ao governador Pilatos. 3Então Judas, que o entregara, vendo que Ele tinha sido condenado, foi tocado pelo remorso e devolveu as trinta moedas de prata aos sumos sacerdotes e aos anciãos, dizendo: 4«Pequei, entregando sangue inocente.» Eles replicaram: «Que nos importa? Isso é lá contigo.» 5Atirando as moedas para o santuário, ele saiu e foi enforcar-se. 6Os sumos sacerdotes, apanhando as moedas, disseram: «Não é lícito lançá-las no tesouro, pois são preço de sangue.»

Ária Gebt mir meinen Jesum wieder:

Gebt mir meinen Jesum wieder!

Seht, das Geld, den Mörderlohn,

Wirft euch der verlorne Sohn

Zu den Füβen nieder!

Devolvam-me o meu Jesus!

Vede, o dinheiro, preço de sangue,

O filho perdido atira-o

Aos vossos pés!


Poemas do libretista Christian Friedrich Henricis (cujo pseudónimo era Picander).

Análise Narrativa 4.1

Jesus, Filho de Deus


2: 8-9 (Cura do Paralítico)

«8Jesus percebeu logo, em seu íntimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? 9 Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega no teu catre e anda’?»

2: 25 (sobre o sábado e David)

«25Ele disse: “Nunca lestes o que fez David, quando teve necessidade e sentiu fome, ele e os que estavam com ele?”»

3: 4 (Cura da mão a um homem)

«4E a eles perguntou: “É permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou matá-la?”. Eles ficaram calados.»

3: 23 (Jesus e satanás)

«23Então, Jesus chamou-os e disse-lhes em parábolas: “Como pode Satanás expulsar Satanás?”»

3: 33,35 (a família de Jesus)

«33Ele respondeu: “Quem são minha mãe e meus irmãos?” (…) 35Aquele que fizer a vontade de Deus, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»

4: 13 (sobre a parábola do semeador)

«13E acrescentou: “Não compreendeis esta parábola? Como compreendereis então todas as outras parábolas?”»

4: 21 (sobre a Luz)

«21Disse-lhes ainda: “Põe-se, porventura, a candeia debaixo do alqueire ou debaixo da cama? Não é para ser colocada no candelabro?”»

4: 39-40 (Jesus acalma a tempestade)

«Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma. 40Depois disse-lhes: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”»

5:9 (Cura de um possesso de Gerasa de nome “Legião”)

«9Em seguida, perguntou-lhe: “Qual é o teu nome?” Respondeu: «O meu nome é Legião, porque somos muitos.»

5:29 (Cura da mulher que sofria do fluxo de sangue)

«29De facto, no mesmo instante se estancou o fluxo de sangue, e sentiu no corpo que estava curada do seu mal. 30Imediatamente Jesus, sentindo que saíra dele uma força, voltou-se para a multidão e perguntou: “Quem tocou as minhas vestes?”»

5: 39 (Ressurreição da filha de Jairo)

«39Entrando, disse-lhes: “Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu, está a dormir.”»

6: 37 (1ª Multiplicação dos pães)

«38Mas Ele perguntou: “Quantos pães tendes? Ide ver”.»

7: 17-18 (Sobre o que torna o homem impuro)

«17Quando, ao deixar a multidão, regressou a casa, os discípulos interrogaram-no acerca da parábola. 18Ele respondeu: “Também vós não compreendeis? Não percebeis que nada do que, de fora, entra no homem o pode tornar impuro, 19porque não penetra no coração mas sim no ventre, e depois é expelido em lugar próprio?”»

8: 5 (2ª Multiplicação dos pães)

«5Mas Ele perguntou: “Quantos pães tendes?” Disseram: “Sete.”»

8:12 (Fariseus pedem um sinal)

«12Jesus, suspirando profundamente, disse: “Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: sinal algum será concedido a esta geração.”»

8: 17-21 (Fermento dos fariseus)

«17Mas Ele, percebendo-o, disse: “Porque estais a discorrer que não tendes pão? Ainda não entendestes nem compreendestes? Tendes o vosso coração endurecido? 18Tendes olhos e não vedes, tendes ouvidos e não ouvis? E não vos lembrais 19de quantos cestos cheios de pedaços recolhestes, quando parti os cinco pães para aqueles cinco mil?” Responderam: «Doze.» 20“E quando parti os sete pães para os quatro mil, quantos cestos cheios de bocados recolhestes?» Responderam: «Sete.» 21Disse-lhes então: “Ainda não compreendeis?”»

8: 23 (Cura do cego de Betsaida)

«23Jesus tomou-o pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Deitou-lhe saliva nos olhos, impôs-lhe as mãos e perguntou: “Vês alguma coisa?”»

8: 27 (Quem Sou Eu, pergunta Jesus)

«27Jesus partiu com os discípulos para as aldeias de Cesareia de Filipe. No caminho, fez aos discípulos esta pergunta: “Quem dizem os homens que Eu sou?”»

8: 27 (Quem Sou Eu, pergunta Jesus)

«29“E vós, quem dizeis que Eu sou?” – perguntou-lhes. Pedro tomou a palavra, e disse: “Tu és o Messias.”»

8: 36-37 (Condições para seguir Jesus)

«36Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua vida? 37Ou que pode o homem dar em troca da sua vida?»

9: 12 (Vinda de Elias e anúncio da paixão)

«Jesus respondeu-lhes: “Sim; Elias, vindo primeiro, restabelecerá todas as coisas; porém, não dizem as Escrituras que o Filho do Homem tem de padecer muito e ser desprezado?”»

9: 15 (Cura de um epiléptico)

«15Assim que viu Jesus, toda a multidão ficou surpreendida e acorreu a saudá-lo. 16Ele perguntou: “Que estais a discutir uns com os outros?”»

9: 19 (Cura de um epiléptico)

«19Disse Jesus: “Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos hei-de suportar? Trazei-mo cá.”»

9: 21 (Cura de um epiléptico)

«21Jesus perguntou ao pai: “Há quanto tempo lhe sucede isto?” Respondeu: “Desde a infância”»

9: 33 (Sobre o maior no Reino)

«33Chegaram a Cafarnaúm e, quando estavam em casa, Jesus perguntou: “Que discutíeis pelo caminho?”»

9:50 (Ser sal)

«50O sal é coisa boa; mas, se o sal ficar insonso, com que haveis de o temperar? Tende sal em vós mesmos e vivei em paz uns com os outros.»

10:3 (Sobre o divórcio)

«3Ele respondeu-lhes: “Que vos ordenou Moisés?”»

10:18 (Jovem rico)

«18Jesus disse: “Porque me chamas bom? Ninguém é bom senão um só: Deus”.»

10: 36 (O pedido de Tiago e João)

«36Disse-lhes: “Que quereis que vos faça?”»

10: 36 (O pedido de Tiago e João)

«38Jesus respondeu: “Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu bebo e receber o baptismo com que Eu sou baptizado?”»

10: 51 (Cura do cego Bartimeu)

«51Jesus perguntou-lhe: “Que queres que te faça?” “Mestre, que eu veja!” - respondeu o cego».

11: 3 (Entrada em Jerusalém, o jumento)

«3E se alguém vos perguntar: “Porque fazeis isso?” respondei: “O Senhor precisa dele;” e logo o mandará de volta.»

11: 17 (Expulsão dos vendedores do Templo)

«17E ensinava-os, dizendo: “Não está escrito: A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos? Mas vós fizestes dela um covil de ladrões.”»

11: 29 (Autoridade de Jesus)

«29Jesus respondeu: “Também Eu vos farei uma pergunta; respondei-me e dir-vos-ei, então, com que autoridade faço estas coisas: 30O baptismo de João era do Céu, ou dos homens? Respondei-me.”»

12: 9 (Parábola do vinhateiros homicidas)

«9Que fará o dono da vinha? Regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros.»

12: 15-16 (Tributo a César)

«15Jesus, conhecendo-lhes a hipocrisia, respondeu: “Porque me tentais? Trazei-me um denário para Eu ver.” 16Trouxeram-lho e Ele perguntou: “De quem é esta imagem e a inscrição?”»

12: 24 (Sobre a Ressurreição)

«24Disse Jesus: “Não andareis enganados por desconhecer as Escrituras e o poder de Deus?”»

12: 26 (Sobre a Ressurreição)

«26E acerca de os mortos ressuscitarem, não lestes no livro de Moisés, no episódio da sarça, como Deus lhe falou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob?”»

12: 35 (Jesus Messias e Senhor de David)

«35Ensinando no templo, Jesus tomou a palavra e perguntou: “Como dizem os doutores da Lei que o Messias é filho de David?”»

12: 37 (Jesus Messias e Senhor de David)

«“37O próprio David chama-lhe Senhor; como é Ele seu filho?” E a numerosa multidão ouvia-o com agrado.»

13: 2 (Discurso escatológico)

«2Jesus respondeu: “Vês estas grandiosas construções? Não ficará delas pedra sobre pedra; tudo será destruído.”»

14: 6 (Jesus é ungido para a sepultura)

«6Mas Jesus disse: “Deixai-a. Porque estais a atormentá-la? Praticou em mim uma boa acção!”»

14: 14 (A Ceia Pascal, preparação)

«Segui-o 14e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: O Mestre manda dizer: “Onde está a sala em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?”»


14: 37 (Oração no Getsémani)

«37Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: “Simão, dormes? Nem uma hora pudeste vigiar!”»

15: 34 (última pergunta de Jesus)

«34E às três da tarde, Jesus exclamou em alta voz: “Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?”, que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»

Análise Narrativa 4

São Marcos ou o Evangelho das perguntas

O Evangelho de São Marcos está atravessado de inúmeras perguntas, um total de 98 perguntas, segundo a nossa contagem, e que distribuímos pelas seguintes secções: Jesus, Filho de Deus (4.1); Opositores de Jesus (4.2); Amigos de Jesus (4.3); Doentes (4.4) .
Tal número de perguntas revela a dimensão viva e dialogante do próprio Evangelho. Na sua maioria estas questões são entre Jesus e os seus opositores, o que destaca o confronto e a tensão com Jesus por parte dos seus opositores.
Na verdade, na sua maioria estas perguntas – 55 segundo a nossa contagem – são feitas pelo próprio Jesus, a primeira em Mc 2: 8-9 e a última em Mc 15: 34: «34E às três da tarde, Jesus exclamou em alta voz: “Eloí, Eloí, lemá sabachtáni?”, que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?».
De notar que os opositores de Jesus fazem um total de 26 perguntas, sendo a sua última posta na boca de Pilatos em Mc 15: 14: «14Pilatos insistiu: “Que fez Ele de mal?” Mas eles gritaram ainda mais: “Crucifica-o!”».
No que aos que acompanhavam Jesus diz respeito temos um total de 15 perguntas, sendo esta a última pergunta do Evangelho de Marcos posta na boca do Anjo em Mc 16:3: «Ele disse-lhes: “Não vos assusteis! Buscais a Jesus de Nazaré, o crucificado? Ressuscitou; não está aqui. Vede o lugar onde o tinham depositado.”».
No que aos Doentes diz respeito temos duas perguntas, sendo de destacar aquela que é a primeira em todo o Evangelho: «24”Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus”.». Este é o mesmo contéudo da segunda pergunta desta secção.
Após esta breve introdução apresentamos em secções distintas cada conjunto de perguntas segundo a tipologia já evidenciada e seguindo cada capítulo do Evangelho de São Marcos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Tipificação do Milagre em Mc 7, 31-37

1º - O doente abeira-se de Jesus Cristo
«31Tornando a sair da região de Tiro, veio por Sídon para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. 32Trouxeram-lhe um surdo tartamudo…»
2º - É feita uma petiçao
«e rogaram-lhe que impusesse as mãos sobre ele.»
3º - É vemcido um obstáculo como demonstraçao de fé.
«33Afastando-se com ele da multidão…»
4º - Jesus Cristo toca no enfermo ou pronucia palavras
«Jesus meteu-lhe os dedos nos ouvidos e fez saliva com que lhe tocou a língua. 34Erguendo depois os olhos ao céu, suspirou dizendo: «Effathá», que quer dizer «abre-te.»»
5º - o efeito: a cura é produzida
« 35Logo os ouvidos se lhe abriram, soltou-se a prisão da língua e falava correctamente.»
6º - A reacção
«36Jesus mandou-lhes que a ninguém revelassem o sucedido; mas quanto mais lho recomendava, mais eles o apregoavam. 37No auge do assombro, diziam: «Faz tudo bem feito: faz ouvir os surdos e falar os mudos.»»

Esquema Quinário – Mt 8, 14-15

· Situação Inicial – “Tendo chegado Jesus a casa de Pedro”, versículo 14. Temos aqui a descrição do espaço onde se passa a acção.

· Nó – “viu que a sogra dele estava de cama com febre”, versículo 14. Temos aqui a questão que faz desencadear toda a acção.

· Acção Transformadora – “e tomou-a pela mão”, versículo 15. O gesto transformador é o pegar da mão.

· Desenlace – “e a febre deixou-a”, versículo 15. Temos aqui o efeito da acção transformadora.

· Situação Final – “e ela levantou-se e pôs-se a servi-los”, versículo 15. Aqui temos o fim da história, a consequência do tocar de Jesus.

Semelhanças e diferenças nos textos de Mateus 8, 23-27; Marcos 4, 35-41; e Lucas 8, 22-25

  1. As diferenças nos textos

Mateus 8, 23-27

Marcos 4, 35-41

Lucas 8, 22-25

  • “Depois subiu para a barca e os discípulos acompanharam-no”,v.23.
  • “Naquele dia, sendo já tarde disse-lhes: «Passemos para a outra margem». Afastando-se da multidão, levaram-no e acompanharam-no outras embarcações”, v.35 e 36.
  • “Certo dia, subiu para um barco com os Seus discípulos e disse-lhes: «Passemos à outra margem do lago» E fizeram-se ao largo”, v. 22.
  • “Aproximando-se d´Ele, os discípulos despertaram-No, dizendo-Lhe: «Senhor, salva-nos, que perecemos»”, v. 25.
  • Acordaram-No e disseram-Lhe: «Mestre, não se Te dá que pereçamos?» Ele, despertando, falou ao vento imperiosamente e disse ao mar: «Cala-te, aquieta-te» O vento serenou e fez-se grande calma”, v. 39
  • “Aproximaram-se d´Ele e, despertando-O, disseram: «Mestre, Mestre, nós perecemos!» E Ele, acordando, falou imperiosamente ao vento e às águas, que se acalmaram; e veio a bonança.
  • “Os homens, admirados, diziam: «Quem é Este, a Quem até o vento e o mar obedecem?»”, v. 27
  • “Sentiram então um grande terror e diziam uns aos outros: «Quem é Este, a Quem até o vento e o mar obedecem?»”, v. 41.
  • “Cheios de medo e admirados, diziam entre eles: «Quem é este homem, que até manda aos ventos e à água, e eles Lhe obedecem?»”, v. 25

  1. As semelhanças nos textos

Mateus 8, 23-27

Marcos 4, 35-41

Lucas 8, 22-25

  • “Levantou-se então, no mar, uma tempestade tão violenta, que as ondas cobriam a barca; entretanto, Jesus dormia”, v. 24.
  • “Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento e as ondas arrojavam-se contra a barca, de tal maneira que já estava quase cheia de água. Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada”, v. 37 e 38.
  • “Enquanto navegavam, adormeceu. Um turbilhão de vento caiu sobre o lago, e eles ficaram inundados e em perigo”, v. 23.
  • “Disse-lhes Ele: «Porque temeis, homens de pouca fé?», v. 26
  • “Depois disse-lhes: «Porque sois tão tímidos? Como? Não tendes fé?»”, v. 40
  • “Disse-lhes depois: « Onde está a vossa fé?»”, v. 25

  1. Análise dos Textos

Estamos perante três relatos onde a história é a mesma, mas o seu discurso é diferente.

A introdução da história como verificamos no primeiro quadro tem várias perspectivas, contudo a ideia fundamental é a de Jesus estar com os seus discípulos. Segue-se então a tribulação da viagem, onde a descrição que é feita nos três evangelhos é a mesma. De facto surge uma grande tempestade que coloca em alerta os discípulos que estavam na barca. É consensual nos três relatos a grande preocupação dos discípulos. Como também a própria ordem de Jesus aos ventos e águas ser imperativo. Contudo a forma como os discípulos questionam Jesus difere, visto que em Marcos os discípulos questionam Jesus de não agir diante da situação, ao contrário de Mateus em que apenas dizem que estão a perecer. Um aspecto curioso é a diferença de reacções dos discípulos perante a acção de Jesus: em Mateus ficam admirados, em Marcos sentiram um grande terror e em Lucas estavam cheios de medo e aos mesmo tempo admirados.

Um outro aspecto, e no seguimento da história, é o questionamento de Jesus aos discípulos, que é uma questão central e consensual aos três relatos, demonstrando que os três evangelistas sublinham a importância desta questão de Jesus aos discípulos.

Por fim, terminam ambos da mesma forma a narrativa, levantando a questão de quem é este homem que manda nos ventos e nas águas. Os discípulos reagem com medo perante a acção de Jesus.

Tipificação do Milagre em Mc 7, 31-37

  1. Abeira-se de Jesus – “Trouxeram-lhe um surdo-mudo”, versículo 32.

  1. Petição – “…e pediram-Lhe que lhe impusesse as mãos”, versículo 32 e 33.

3. Obstáculo – “Então, Jesus, tomando-o à parte de entre a multidão…”, versículo 33.

  1. Tocar – “...meteu-lhe os dedos nos ouvidos, e tocou-lhe com saliva a língua. Depois, levantando os olhos ao céu, deu um suspiro e disse-lhe: «Effathá, que quer dizer «abra-te».”, versículos 33 e 34.

  1. Efeito – “Imediatamente se lhe abriram os ouvidos, se lhe soltou a prisão da língua e falava claramente”, versículo 35.

  1. Reacção – “E admiravam-se sobremaneira, dizendo: «Tudo fez bem! Faz ouvir os surdos e falar os mudos!»”, versículo 37.

Sequência narrativa (Mt 9, 9-17)

Uma sequência narrativa é composta por um conjunto de micro-relatos. Ora, só é possível detectar estes micro-relatos por intermédio de quatro critérios: tempo, espaço, personagens e tema. A sequência narrativa faz-se sentir por meio de um fio condutor que acompanha esse conjunto de micro-relatos. O micro-relato Mt 9, 9 está inserido dentro da sequência narrativa Mt 9, 9-17:

«9Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: "Segue-me!" E ele levantou-se e seguiu-o. 10Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos. 11Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: "Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?" 12Jesus ouviu-os e respondeu-lhes: "Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. 13Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores." 14Depois, foram ter com Ele os discípulos de João, dizendo: "Porque é que nós e os fariseus jejuamos e os teus discípulos não jejuam?" 15Jesus respondeu-lhes: "Porventura podem os convidados para as núpcias estar tristes, enquanto o esposo está com eles? Porém, hão-de vir dias em que lhes será tirado o esposo e, então, hão-de jejuar." 16"Ninguém põe um remendo de pano novo em roupa velha, porque o remendo puxa parte do tecido e o rasgão torna-se maior. 17Nem se deita vinho novo em odres velhos; de contrário, rompem-se os odres, derrama-se o vinho e estragam-se os odres. Mas deita-se o vinho novo em odres novos; e, desta maneira, ambas as coisas se conservam."»

Esta sequência narrativa, presente no evangelho de São Mateus, começa com o chamamento de Mateus, dado que antes deste momento importante na vida do evangelista, temos presente a cura de um paralítico (Mt 9, 1-8), o que significa que mudou o tema visto que por um lado temos a cura como tema central e depois temos o chamamento, o “segue-me!” de Jesus a Mateus. Mudam também as personagens, onde temos apenas agora Jesus e Mateus. E, o espaço também se altera, como podemos constatar já dentro desta sequência: “partindo dali”.
O termo desta sequência narrativa parece dar-se no final do versículo 17, dado que o versículo seguinte mostra o inicio de uma nova sequência narrativa, em que Jesus é abordado pelo chefe Jairo, por causa da sua filha. Com esta súplica do chefe Jairo, Jesus deixa a casa de Mateus: “Jesus, levantando-se, seguiu-o com os discípulos”. Dá-se assim, uma mudança de espaço, de personagens (com a inclusão do chefe Jairo) e principalmente de tema: a súplica para uma cura.
Se concluirmos que entre Mt 9, 9 e Mt 9, 17 temos presente uma sequência narrativa, então o que é que acontece nela? Qual o fio condutor que se faz sentir nesta sequência narrativa?
• Ora, como já vimos a sequência começa com o micro-relato do chamamento de Mateus em Mt 9, 9. Nela podemos ver que Mateus era um cobrador de impostos, que na altura do chamamento de Jesus estava “sentado no posto de cobrança”. Com isto, vemos qual o espaço em que se deu este episodio importante na vida do homem Mateus. Como é óbvio, o tema é o chamamento. As únicas personagens que se mostram presentes são Mateus e Jesus.
• Logo, após este momento, vemos o inicio de um novo micro-relato. Primeiramente, as personagens presentes para além de Jesus e Mateus (subentendido já que Jesus se encontra à mesa da sua casa), temos: “numerosos cobradores de impostos e outros pecadores”, os fariseus e os discípulos. Como já se notou, mudou-se o espaço. Já não falamos em “posto de cobrança”, mas sim “em sua casa”, referindo-se à casa de Mateus. E, o tema é acerca da presença de Jesus e os discípulos entre os pecadores e os cobradores de impostos, com Jesus a ensinar e a proclamar o Evangelho do Reino.
• Em seguida, está Jesus ainda em casa de Mateus, onde se aproximam de Jesus, outros personagens, os discípulos de João, questionando-O sobre um novo tema, o jejum. Há então um novo micro-relato, sobre a questão do jejum. Vemos um fio condutor ainda presente dado que Jesus não cessou ainda de ensinar e proclamar o Evangelho na casa de Mateus.
• Por fim, a questão dos odres velhos e dos odres novos. É um novo tema, um novo ensinamento de Jesus, mas também surge como uma conclusão deste “tempo” em que Jesus esteve a anunciar o Reino de Deus aos presentes. Subentende-se que as personagens que surgiram até então se mantenham com o Jesus, na casa de Mateus. Com esta questão conclui-se esta sequência narrativa, dado que como já vimos, em seguida surge-nos a figura do chefe Jairo, dando inicio a um novo micro-relato que não se inclui no fio condutor presente nesta sequência narrativa Mt 9, 9-17.

Tipificação de cenas em Mc 1,40-45

Reconhecemos um esquema a seis momentos, com seis items:

1. Um doente aproxima-se de Jesus (1,40a): “E aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele”

2. Petição que é feita (1,40b): “lhe dizia: Se quiseres, bem podes limpar-me”


3. Obstáculo que é vencido para que a fé se revele (1,40b): “Se quiseres”.
Esta expressão diz a fé de quem confia no poder de Jesus e por isso ultrapassa a barreira do impossível.

4. Jesus toca (o toque de Jesus e/ou pronuncia palavras (1,41): “E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo”

5. Efeito do toque ou palavra de Jesus (1,42): “E, tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo”

6. A reacção dos presentes (1,45): “Tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já näo podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele”

Tipificação dos milagres (Mc 1, 29-31)

Em Marcos temos presente diversas situações milagrosa, mas em todo o Evangelho só notamos uma maneira de contar o milagre, fazendo saltar um esquema que se repete. Isto dá a entender que em Marcos temos presente um trabalho de edição, dada a presença destas cenas tipo. A tipificação dos milagres em Marcos dá-se em seis passos:
1º o doente ou perturbado abeira-se de Jesus.
2º é feita uma petição.
3º é vencido um obstáculo como demonstração de fé – revelar a fé.
4º Jesus toca no enfermo e/ou pronuncia palavras.
5º o efeito: a cura é produzida.
6º a reacção: a dos presentes (a do próprio também conta).

Mc 1, 29-31
«29Saindo da sinagoga, foram para casa de Simão e André, com Tiago e João. 30A sogra de Simão estava de cama com febre, e logo lhe falaram dela. 31Aproximando-se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los.»

Para aplicarmos o esquema outrora apresentado temos a passagem da cura da sogra de Simão como objecto do nosso estudo. Assim, podemos concluir que:

Tipificação dos Milagres no Evangelho de São Marcos

Marcos 7, 24 – 30
Cura da filha de uma sirofenícia

1 Momento: Mc 7, 24 – 25 Na região de Tiro, uma mulher grega – sirofenícia – prostra-se aos pés de Jesus, mesmo quando este tentava passar inadvertido.

2 Momento: Mc 7, 26 A mulher roga pela cura da sua filha possessa por um espírito imundo.

3 Momento: Mc 7, 27 – 28 Perante esta súplica Jesus coloca um obstáculo: Pela sua origem, a mulher não é a destinatária directa das promessas; contudo, Jesus vê-se interpelado pela mulher que reconhece a sua condição com humildade.

4 Momento: Mc 7,29 Jesus reage positivamente perante a humildade desta mulher considerada pagã, e através das suas palavras intervém para sarar a filha da sirofenícia.

5 Momento (O efeito): Mc 7, 29 A mulher volta para a sua casa e encontra a sua filha curada: O demónio a tinha deixado.

6 Momento (A reacção): Este momento do esquema de tipificação não está presente nesta narrativa específica, seja pela economia da narração, seja pelo próprio caracter privado – a narrativa não evidencia outra coisa – do milagre. Certamente houveram reacções fruto desta cura milagrosa, contudo, o narrador não nos fornece esses dados.

David Jesús Cerdas Vega
110104534.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Tipificação de um milagre presente no Evangelho de S. Marcos

Milagre | Cura de um paralítico | Mc 2, 1-12

1Dias depois, tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em casa. 2Juntou-se tanta gente que nem mesmo à volta da porta havia lugar, e anunciava-lhes a Palavra. 3Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. 4Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico. 5Vendo Jesus a fé daqueles homens, disse ao paralítico: «Filho, os teus pecados estão perdoados.»

6Ora estavam lá sentados alguns doutores da Lei que discorriam em seus corações: 7«Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?» 8Jesus percebeu logo, em seu intimo, que eles assim discorriam; e disse-lhes: «Porque discorreis assim em vossos corações? 9Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: “Os teus pecados estão perdoados?” ou dizer “Levanta-te, pega no teu catre e anda?” 10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, 11 Eu te ordeno – disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.» 12Ele levantou-se e, pegando logo no catre saiu à vista de todos, de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: « Nunca vimos coisa assim!»

Momentos do Milagre:

  • Aproximação a Jesus | Quatro homens levam um paralítico ao pé de Jesus. “...tendo Jesus voltado a Cafarnaúm, ouviu-se dizer que estava em casa.”, “3Vieram, então, trazer-lhe um paralítico, transportado por quatro homens. 4Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico.”

  • Pedido | Entende-se pelo esforço dos homens, que estes pretendem que Jesus cure o paralítico.4Como não podiam aproximar-se por causa da multidão, descobriram o tecto no sítio onde Ele estava, fizeram uma abertura e desceram o catre em que jazia o paralítico.”

  • Problema | Neste milagre o problema surge de dois lados, primeiramente surge devido aos doutores da Lei, que consideram blasfémia o que Jesus diz, quando o vê o paralítico.

Jesus ao ver o paralítico, perdoa-lhe os pecados, “Filho, os teus pecados estão perdoados.”, no entanto, os doutores da Lei, ao ouvirem, questionam-se como é possível Jesus perdoar os pecados, pois apenas Deus poderá perdoar os pecados, “7Porque fala este assim? Blasfema! Quem pode perdoar pecados senão Deus?”.

Em resposta a esta questão, Jesus lança outro problema perguntando “Porque discorreis assim em vossos corações? 9Que é mais fácil? Dizer ao paralítico: “Os teus pecados estão perdoados?” ou dizer “Levanta-te, pega no teu catre e anda?””

  • Jesus fala | Perante tal problema, Jesus explica que o Filho do Homem, tem na terra o poder de perdoar os pecados, “10Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar os pecados, ...”. Perante tal afirmação, Jesus cura o paralítico, apenas falando, “11 Eu te ordeno – disse ao paralítico: levanta-te, pega no teu catre e vai para tua casa.”.

Jesus apresenta-se assim, como o Messias, reivindicando e exercendo o poder do perdão, sendo o perdão dos pecados um dom messiânico por excelência.

  • Cura | Graças à fala de Jesus, o paralítico fica curado, “12Ele levantou-se e, pegando logo no catre saiu à vista de todos...”.
  • Resultado | Como resultado, de todo este milagre, surge uma onda de admiração e espanto, por parte de quem o assistiu, “...de modo que todos se maravilhavam e glorificavam a Deus, dizendo: « Nunca vimos coisa assim!» “.

Identificação da sequência narrativa Mt 8,23-34


Em Mt 8, 23–34 podemos detectar uma etapa do Evangelho, com um tema central – o poder de Jesus sobre as forças do mal – através de acções e gestos, particularmente a expulsão de demónios ou “exorcismo”, com os quais Jesus mostra a sua autoridade e vai revelando a sua identidade.
Embora no entorno do Mar da Galileia, uma mudança de espaço – o próprio mar e a “outra margem” - mas também de tempo – depois do entardecer, certamente à noite - inaugura a sequência narrativa, composta por dois micro-relatos – a “Tempestade acalmada” (Mt 8,23-27) e os “Possessos de Gádara” (Mt 8, 28-34) - que podemos identificar através do cambio de alguns elementos: mudanças temporais, mudanças espaciais e mudança de personagens.

II - Análise do micro-relato Mt 8, 28-34: Os endemoninhados de Gádara

28Chegado à outra margem, à região dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. 29Vendo-o, disseram em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?» 30Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande vara de porcos. 31E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» 32Disse-lhes Jesus: «Ide!» Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas.
33Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. 34Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região.

1. Aplicação do esquema quinário:
a) Situação inicial – Mt 8, 28:
28Chegado à outra margem, à região dos gadarenos,

O narrador descreve a situação antes de se colocar qualquer problema.

b) “Nó” – Mt 8, 28-29:
28 (…) vieram ao seu encontro dois possessos, que habitavam nos sepulcros. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. 29Vendo-o, disseram em alta voz: «Que tens a ver connosco, Filho de Deus? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?»

Encontramos aqui a narração do problema central: o choque de Jesus com as forças do mal. Perante a presença de Jesus os possessos sentem-se ameaçados. Se os homens não reconhecem Jesus, já os demónios conhecem-no bem.

c) Acção transformadora - Mt 8, 30-32:
30Ora, andava a pouca distância dali, a pastar, uma grande vara de porcos. 31E os demónios pediram-lhe: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» 32Disse-lhes Jesus: «Ide!»

A “acção transformadora” acontece desde logo pela presença de Jesus, que se impõe a Satanás e destrói o seu “império”. O exorcismo dos demónios culmina na palavra de Jesus «Ide!»
Estes versículos relatam-nos, assim, a autoridade de Jesus, que se revela através do seu agir.

d) Desenlace - Mc 8, 32
Então, eles, saindo, entraram nos porcos, que se despenharam por um precipício, no mar, e morreram nas águas.

O problema resolve-se com a expulsão dos demónios que possuem, então, a vara de porcos, animais impuros. Estes precipitam-se no mar, símbolo dos abismos e refúgio das forças do mal: Jesus triunfa sobre o demónio.

e) Situação final – Mc 5, 42-43
33Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. 34Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região.

Os guardas dos porcos, que presenciaram a acção libertadora de Jesus, ficam assustados com o sucedido e fogem. Os habitantes da cidade não querem acolher a libertação de Jesus, seja pelo medo face ao impacto do exorcismo, seja pelo prejuízo material causado, o que revelaria estarem demasiado apegados aos bens terrenos ignorando a salvação oferecida por Cristo

2. Intriga – Quanto à intriga, o relato apresenta uma intriga de resolução e de revelação: de resolução, pois os possessos são libertados do poder de satanás; de revelação, porque o exorcismo é revelador do poder e da autoridade de Jesus, que se impõe às forças do mal.

3. Personagens - Neste micro-relato encontramos diversos tipos de personagens:

1) Planas – Aparentemente, o povo da cidade não se abre à acção salvífica de Jesus.
2) Redondas – Como personagem redonda, que sofre transformação ao longo do relato, temos os próprios possessos, ferozes, que sofrem uma profunda transformação, ficando libertos do poder do maligno.
3) Opositoras – O povo da cidade, opositor da acção salvadora de Cristo.

Focalização externa: grande parte do relato apresenta o que se poderia ver se estivesse presente: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.»

Focalização Zero: o narrador fornece indicações suplementares que ultrapassam o momento da cena, mas que são importantes para compreender as personagens: «Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho.»

4. Enquadramento
Espaço:
O relato acontece já no território da “outra margem” do Mar da Galileia, “na região dos gadarenos”. Temos, portanto, uma descrição topográfica, mas também política, que localiza o início do relato na margem do Mar da Galileia, nas imediações da cidade de Gádara, na Decápole, região helenista, pagã.
Há, contudo, também um sentido simbólico do espaço, uma carga sémica, pois a Decápole era um país pagão, o que acentua a universalidade da acção salvadora de Jesus. Ainda dentro desta carga sémica do espaço, sabemos que os possessos viviam em sepulcros, espaços geralmente com câmaras que proporcionariam abrigo a excluídos e marginais, o que acentua a marginalidade dos possessos. Possuídos pelo “poder das trevas”, estes habitavam na região dos mortos. Por fim, é-nos indicado que a acção decorre junto a um precipício à beira do mar: tudo remete para a simbólica dos “abismos”, refúgio das forças do mal.

Tempo:
O relato começa com uma indicação temporal - «Chegado à outra margem» - ou seja, a acção desenrola-se logo após o desembarque.
O tempo deste relato tem um valor factual, mortal, ou cronológico. Tudo acontece depois de Jesus ter atravessado, no barco, certamente de noite, para a outra margem.
Mas encontramos também um tempo monumental, simbólico, pois os próprios endemoninhados referem que ainda não é “o tempo”, e que Jesus está a agir «antes do tempo», ou seja, antes da vitória final sobre as forças do mal.

5. Situação de relato
A situação de relato é, sobretudo, uma”cena”, pois há uma identificação entre a história contada e o tempo do contar, como que em “tempo real”. Mas encontramos também uma situação de “sumário”, em que o tempo do relato é mais curto do que o da história: «Os guardas fugiram e, indo à cidade, contaram tudo o que se tinha passado com os possessos. Toda a cidade saiu ao encontro de Jesus e, vendo-o, rogaram-lhe que se retirasse daquela região.»

Diogo Correia
N.º 114107515

Tipificação dos milagres no Evangelho de Marcos


“A ressurreição da filha de Jairo” - Mc 5,21-43

21Depois de Jesus ter atravessado, no barco, para a outra margem, reuniu-se uma grande multidão junto dele, que continuava à beira-mar. 22Chegou, então, um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, prostrou-se a seus pés 23e suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva.» 24Jesus partiu com ele, seguido por numerosa multidão, que o apertava. (…).
35Ainda Ele estava a falar, quando, da casa do chefe da sinagoga, vieram dizer: «A tua filha morreu; de que serve agora incomodares o Mestre?» 36Mas Jesus, que surpreendera as palavras proferidas, disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas receio; crê somente.» 37E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. 38Ao chegar a casa do chefe da sinagoga, encontrou grande alvoroço e gente a chorar e a gritar. 39Entrando, disse-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu, está a dormir.» 40Mas faziam troça dele. Jesus pôs fora aquela gente e, levando consigo apenas o pai, a mãe da menina e os que vinham com Ele, entrou onde ela jazia.
41Tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, «Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!» 42E logo a menina se ergueu e começou a andar, pois tinha doze anos. Todos ficaram assombrados. 43Recomendou-lhes vivamente que ninguém soubesse do sucedido e mandou dar de comer à menina.

1 – O perturbado abeira-se de Jesus:
«22Chegou, então, um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, prostrou-se a seus pés»

2 – É feita uma petição:
«23e suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva.»

3 – É vencido um obstáculo como demonstração de fé:
«35Ainda Ele estava a falar, quando, da casa do chefe da sinagoga, vieram dizer: «A tua filha morreu; de que serve agora incomodares o Mestre?» 36Mas Jesus, que surpreendera as palavras proferidas, disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas receio; crê somente.»

4 – Jesus toca no enfermo e pronuncia palavras:
«41Tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, «Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!»

5 – O efeito - a cura é realizada:
«42E logo a menina se ergueu e começou a andar, pois tinha doze anos.»

6 – A reacção – atestação do facto:
«42(…). Todos ficaram assombrados.»

Diogo Correia
N.º 114107515

Identificação da sequência narrativa Mc 4, 35 – 5, 43

A sequência de Mc 4, 35 – 5, 43 insere-se numa grande sequência que corresponde ao ministério de Jesus na Galileia: Mc 1, 14 – 7,23.
Em Mc 4, 35 – 5, 43 podemos de facto encontrar uma etapa do Evangelho, com um tema central – quatro milagres de Jesus – acções e gestos, particularmente a expulsão de demónios ou “exorcismos”, com os quais Jesus vai revelando a sua identidade, logo depois do seu ensinamento às multidões com as “Parábolas do Reino”, na sequência imediatamente anterior.
Embora no entorno do Mar da Galileia, uma mudança de espaço, mas também de tempo – o entardecer é o fim do dia e o início do dia seguinte - inaugura a sequência narrativa após as parábolas: «Passemos para a outra margem» Mc 4 35.
Os quatro milagres referidos constituem quatro micro-relatos que podemos identificar através de quatro elementos: mudanças temporais, mudanças espaciais, acompanhadas mudança de personagens e do próprio tema narrativo. O primeiro micro-relato – “a tempestade acalmada” Mc 4, 35-41 – desenrola-se no próprio mar, após a partida de barco temporalmente situada depois do «entardecer». O segundo – “o possesso de Gerasa” Mc 5, 1-20 – acontece já no território da “outra margem” do Mar da Galileia, na região da Decápole, logo após o desembarque: «Logo que Jesus desceu do barco». Por fim, o terceiro e quarto micro-relatos – “a ressurreição da filha de Jairo” Mc 5,21-43, e a “cura da hemorroíssa” Mc 5, 25-34, inserida no primeiro - têm lugar novamente no “outro lado” do mar, num local não definido, mas temporalmente situado «Depois de Jesus ter atravessado».
A sequência seguinte, que começa em Mc 6, 1, é também inaugurada por uma mudança espacial, já que Jesus regressa à sua terra, Nazaré.

II
Análise do micro-relato Mc 5, 21-24 e 5, 35-43: A ressurreição da filha de Jairo

1. Aplicação do esquema quinário:
a) Situação inicial – Mc 5, 21:
21Depois de Jesus ter atravessado, no barco, para a outra margem, reuniu-se uma grande multidão junto dele, que continuava à beira-mar.

O narrador descreve aqui a situação antes de se colocar qualquer problema a Jesus.

b) “Nó” – Mc 5, 22-24 e 35:
22Chegou, então, um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, prostrou-se a seus pés 23e suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva.» 24Jesus partiu com ele, seguido por numerosa multidão, que o apertava. (…).
35Ainda Ele estava a falar, quando, da casa do chefe da sinagoga, vieram dizer: «A tua filha morreu; de que serve agora incomodares o Mestre?»

Encontramos aqui a narração do problema central, que se agudiza com a notícia da morte da menina.

c) Acção transformadora - Mc 5, 36-41:
36Mas Jesus, que surpreendera as palavras proferidas, disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas receio; crê somente.» 37E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. 38Ao chegar a casa do chefe da sinagoga, encontrou grande alvoroço e gente a chorar e a gritar. 39Entrando, disse-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu, está a dormir.» 40Mas faziam troça dele. Jesus pôs fora aquela gente e, levando consigo apenas o pai, a mãe da menina e os que vinham com Ele, entrou onde ela jazia.
41Tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, «Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!»

A “acção transformadora” acontece logo que Jesus se dirige a Jairo, exortando-o a que tivesse fé. Este é o início da acção que, passando pela escolha dos três apóstolos para o acompanharem e pela indicação expressa de que a menina não morrera, culminará no gesto de cura por parte de Jesus, quando toma a mão da menina, que jazia deitada.
Estes versículos relatam-nos, pois, não só a acção concreta que resolverá o problema, que seria apenas o gesto de tomar a mão da menina, mas a própria autoridade de Jesus, que se revela através do seu agir, a ponto de se indignar e expulsar os mais incrédulos sobre a sua pessoa.

d) Desenlace - Mc 5, 42
42E logo a menina se ergueu e começou a andar, pois tinha doze anos. (…).

O problema resolve-se com a cura da filha de Jairo pela acção de Jesus.

e) Situação final – Mc 5, 42-43
42(…) Todos ficaram assombrados. 43Recomendou-lhes vivamente que ninguém soubesse do sucedido e mandou dar de comer à menina.

Os presentes reconhecem o milagre, ficando “assombrados” com o sucedido.

2. Intriga – Quanto à intriga, o relato apresenta uma intriga de resolução e de revelação: de resolução, pois o “problema” – doença e morte da filha de Jairo – é solucionado; de revelação, porque tudo conduz à cena em que acontece o “milagre” revelador do poder e da autoridade de Jesus e, como tal, do mistério da sua identidade.

3. Personagens - Neste micro-relato encontramos diversos tipos de personagens:

1) Planas – Jairo é uma personagem “plana”, que não sofre transformação ao longo do relato. Profundamente convicto de que Jesus resolverá o problema da filha - «vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva» Mc 5,23 - é desde o início retratado como um homem de fé, que o próprio Jesus encoraja.

2) Redondas – Como personagem redonda, que sofre transformação ao longo do relato, temos a personagem colectiva dos presentes em casa de Jairo, que sofrem uma profunda transformação, pois de uma atitude incrédula face às palavras de Jesus, que os leva a fazer «troça dele», se enchem de assombro perante a sua acção milagrosa.

3) Opositoras – Esse mesmo povo reunido em casa de Jairo, que troça das palavras de Jesus, é, em determinado momento, opositor da sua acção salvadora.

4) Adjuvantes – Os apóstolos que vinham com Jesus – Pedro, Tiago e João - e o próprio pai da menina são aqui personagens adjuvantes, que acompanham e colaboram com Jesus.

4 - Enquadramento
Espaço – Neste relato encontramos dois espaços diferenciados: um exterior e outro interior. O espaço exterior é constituído pela margem do lago, onde a multidão se aglomera para ver Jesus - «reuniu-se uma grande multidão junto dele, que continuava à beira-mar» - e as próprias ruas da localidade onde se desenrola a cena, que Jesus atravessa para se dirigir à casa do chefe da sinagoga, sempre «seguido por numerosa multidão». Temos portanto uma descrição topográfica, que localiza o início do relato na margem do Mar da Galileia.
Contudo, o culminar da narrativa acontece num espaço interior, “circular”, de proximidade: a casa de Jairo e, dentro desta, a divisão onde jazia a menina. É nesse espaço de intimidade, ao abrigo dos olhares indiscretos da «gente a chorar e a gritar», que a acção salvífica de Jesus se realiza. Estão presentes apenas os “eleitos” por Jesus: o pai, Jairo, homem de fé, humilde, que no meio da multidão se prostrou aos pés de Jesus, capaz de entender os seus sinais e os seus gestos; e os três apóstolos, que serão eles próprios testemunhas privilegiadas de outros grandes momentos que revelam o Cristo - a transfiguração e a agonia. Esta intimidade reforça o ocultamento intencional que Jesus faz do mistério da sua identidade, “segredo” que impõe aos que o rodeiam. Essa identidade só é revelada aos verdadeiros “discípulos”, aos que demonstram ter fé inabalável, e, por isso, o gesto da “cura” não é visível a todos. A intimidade da “ressurreição” da menina acontece sob o olhar da fé.

Tempo:
O tempo deste relato tem um valor sobretudo factual, mortal, ou cronológico. Não há grandes referências temporais a não ser que tudo acontece «Depois de Jesus ter atravessado, no barco, para a outra margem». Não encontramos, assim, na descrição do tempo um valor monumental ou simbólico.
A situação de relato é uma”cena”, pois há uma identificação entre a história contada e o tempo do contar, como que em “tempo real”.

Diogo Correia
N.º 114107515

Tipificação dos Milagres em Marcos - Ressurreição da filha de Jairo (Mc 5, 21-24. 35-43)

Depois de Jesus ter atravessado, no barco, para a outra margem, reuniu-se uma grande multidão junto dele, que continuava à beira-mar. 22Chegou, então, um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, prostrou-se a seus pés 23e suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva.» 24Jesus partiu com ele, seguido por numerosa multidão, que o apertava. (…) Ainda Ele estava a falar, quando, da casa do chefe da sinagoga, vieram dizer: «A tua filha morreu; de que serve agora incomodares o Mestre?» 36Mas Jesus, que surpreendera as palavras proferidas, disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas receio; crê somente.» 37E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. 38Ao chegar a casa do chefe da sinagoga, encontrou grande alvoroço e gente a chorar e a gritar. 39Entrando, disse-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu, está a dormir.» 40Mas faziam troça dele. Jesus pôs fora aquela gente e, levando consigo apenas o pai, a mãe da menina e os que vinham com Ele, entrou onde ela jazia. 41Tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, «Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!» 42E logo a menina se ergueu e começou a andar, pois tinha doze anos. Todos ficaram assombrados. 43Recomendou-lhes vivamente que ninguém soubesse do sucedido e mandou dar de comer à menina.

TIPIFICAÇÃO DOS MILAGRES EM MARCOS
1. O doente ou perturbando a abeira-se de Jesus: vs 22 “Chegou, então, um dos chefes da sinagoga, de nome Jairo, e, ao vê-lo, prostrou-se a seus pés” – quem se abeira de Jesus é o pai da menina doente
2. A petição, vs 23: “suplicou instantemente: «A minha filha está a morrer; vem impor-lhe as mãos para que se salve e viva.»”
3. É vencido um obstáculo: vs 35-36: “da casa do chefe da sinagoga, vieram dizer: «A tua filha morreu; de que serve agora incomodares o Mestre?» Mas Jesus, que surpreendera as palavras proferidas, disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas receio; crê somente.»” O obstáculo fora colocado pela multidão.
4. Jesus toca no enfermo e/ou pronuncia palavras, vs 41: “41Tomando-lhe a mão, disse: «Talitha qûm!», isto é, «Menina, sou Eu que te digo: levanta-te!»”
5. O efeito: a cura é produzida, vs 42 “42E logo a menina se ergueu e começou a andar, pois tinha doze anos.”
6. A reacção dos presentes, que serve de atestação do facto: vs 42 “Todos ficaram assombrados.”

Tipificação do milagre dum surdo-mudo Mc 7, 31-37

Tornando a sair da região de Tiro, veio por Sídon para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. Trouxeram-lhe um surdo, que também falava dificilmente e rogaram-lhe que impusesse a mão sobre ele. Afastando-se com ele da multidão, Jesus meteu-lhe os dedos nos ouvidos e fez saliva com que lhe tocou a língua. Erguendo depois os olhos ao céu, suspirou, dizendo-lhe: «Effathá», que quer dizer, «abre-te!». Os ouvidos abriram-se-lhe em seguida, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar correctamente. Jesus adverti-os de que a ninguém revelassem o ocorrido; mas quanto mais, porem, lho recomendava, mais eles o apregoavam. Cheios de admiração, diziam: «Tudo fez admiravelmente. Fez ouvir os surdos e falar os mudos.»

1. O doente que se abeira de Jesus
Tornando a sair da região de Tiro, veio por Sídon para o mar da Galileia, atravessando o território da Decápole. Trouxeram-lhe um surdo, que também falava dificilmente.
2. A petição
Rogaram-lhe que impusesse a mão sobre ele.
3. A revelação da fé pelo vencimento de um obstaculo
Afastando-se com ele da multidão.
4. Jesus que toca o enfermo e pronuncia as palavras para a cura
Jesus meteu-lhe os dedos nos ouvidos e fez saliva com que lhe tocou a língua. Erguendo depois os olhos ao céu, suspirou, dizendo-lhe: «Effathá», que quer dizer, «abre-te!».
5. A cura que é realizada, o efeito
Os ouvidos abriram-se-lhe em seguida, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar correctamente.
6. A reacção dos presente que serve de atestação
Jesus adverti-os de que a ninguém revelassem o ocorrido; mas quanto mais, porem, lho recomendava, mais eles o apregoavam. Cheios de admiração, diziam: «Tudo fez admiravelmente. Fez ouvir os surdos e falar os mudos.»

Análise Narrativa 3

Tipificação dos Milagres: o caso Mc 3: 1-6


«1Novamente entrou na sinagoga. E estava lá um homem que tinha uma das mãos paralisada. 2Ora eles observavam-no, para ver se iria curá-lo ao sábado, a fim de o poderem acusar. 3Jesus disse ao homem da mão paralisada: «Levanta-te e vem para o meio.» 4E a eles perguntou: «É permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou matá-la?» Eles ficaram calados. 5Então, olhando-os com indignação e magoado com a dureza dos seus corações, disse ao homem: «Estende a mão.» Estendeu-a, e a mão ficou curada. 6Assim que saíram, os fariseus reuniram-se com os partidários de Herodes para deliberar como haviam de matar Jesus.»


1) O doente abeira-se de Jesus:

«3Jesus disse ao homem da mão paralisada: «Levanta-te e vem para o meio». O doente abeira-se de Jesus a seu pedido.

2) É feita uma petição:

«5Então, olhando-os com indignação e magoado com a dureza dos seus corações, disse ao homem: «Estende a mão.». Surpreendentemente é Jesus quem faz a petição – ‘Estende a mão’ – para curar o homem da mão atrofiada.

3) É vencido um obstáculo como demonstração de fé:

«4E a eles perguntou: «É permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar uma vida ou matá-la?» Eles ficaram calados». O mesmo obstáculo é enunciado no versículo 1 deste micro-relato.

4) Jesus Cristo toca no enfermo e pronuncia palavras:

«5Então, olhando-os com indignação e magoado com a dureza dos seus corações, disse ao homem: “Estende a mão”.». O mesmo versículo da petição é agora aquele em que Jesus pronuncia uma palavra de cura.

5) O efeito:

«5Estendeu-a, e a mão ficou curada». No mesmo versículo produz-se o efeito, ou seja, o homem fica curado da mão.


6) A reacção:

«6Assim que saíram, os fariseus reuniram-se com os partidários de Herodes para deliberar como haviam de matar Jesus.». A reacção dos fariseus ainda que negativa atesta a cura, pois saem à pressa e reúnem-se de imediato em conselho com os partidários de Herodes para combinarem o modo e o momento para matar Jesus, pois tais milagres atestavam que vinha de Deus.