quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

005| SINÓPTICOS

CONFRONTO ENTRE OS EVANGELHOS SINÓPTICOS

O projecto evangélico de Mateus

O Evangelho de Mateus é uma narração e era o mais conceituado e considerado nas comunidades primitivas. Este era a âncora para a comunidade como foi para Etty Hillesum no campo de concentração. Apresenta um discurso mais elaborado e maximalista. Mateus tem a preocupação de orientar o leitor na leitura (Mt 13,24). A sua pedagogia é o saciar. Sinal disso são as redundâncias, todos os seus textos e afirmações do autor são confrontados e fundamentados com o AT, “Assim se cumpriu…” e “como foi anunciado pelos profetas…” (Mt 2,23).

Guia proléptico para leitura: Como base cap.1-3, Evangelho da Infância; coluna cap.5, Sermão da Montanha, com centralidade no Pai nosso; cap.10, Dimensão histórica do nascimento da Igreja, dando importância à dimensão comunitária e relegando para um plano inferior o sábado e a família; cap.13, Parábolas, aqui Jesus tematiza o reino de Deus, Semeador, o Grão de Mostarda; cap.18, Discurso eclesial, como se faz e se é um discípulo, cap.24-25, discurso escatológico, linguagem apocalíptica; arquitrave 26-27, relatos da paixão, cúpula 28 (ressurreição).

Este Evangelho é particular também pelas palavras utilizadas e pelo seu destaque no próprio Evangelho: Igreja 3x; Justiça 13x, Justo 17x, Dia do juízo 4x, Juízo 12x, Fogo 12x, entre outras.

A Geneologia: Mt 1,1-17, Mateus tem o objectivo de defender que Jesus é filho de David. As 14 gerações surgem das três consoante da palavra David, em que o “d” representa o 4 e o “v” o 6, 4+6+4=14. Jesus é 3x14, por isso a sua realeza é maior e por isso será maior que David. Neste evangelho encontramos também paralelos com o AT, a tensão entre José e Herodes liga-se com a tensão David e Saul. Isaías profetiza que todas as nações virão adorar o rei, a adoração dos reis magos é disso mesmo personificação e também de todas as nações. Na sua genealogia encontramos Tamar, Raab, Rute, Mulher de Urias e Maria. São todas mulheres ilegítimas ou com nascimentos extraordinários. Como foi o próprio nascimento de Jesus. Estas personagens foram importantes na história da salvação. Como será Jesus.

Que judaísmo tem Jesus diante dos seus olhos? É a pergunta que se nos coloca e teria este judaísmo, Sadueus, Essénios, Fariseus e Zelotas. Jesus atravessava habilmente sobre estes partidos porque a autoridade era fraca. Com os fariseus age como saduceu, para os confundir e os colocar uns contra os outros. Mas o judaísmo visto é o do ano 70, sem o Templo. Sem classe sacerdotal ou poder político, Saduceus, Zelotas e Essénios. Ficam apenas os fariseus, a lei e a palavra, a crise do ano 70 forma um judaísmo farisaico e sinagogal. Mateus transfere para os olhos de Jesus o judaísmo do ano 70. E logo o centro de debate de Jesus é com os fariseus. Mt 17,23-26, No ano 66 Flávio Josefo diz: Os cristãos foram criticados por não combater os romanos. Flávio aponta as razões: 1. Escatologia 2. Há cristãos romanos 3. O exílio é purificador (JEREMIAS) 4. Seguem os exemplos de Jesus 5 Cristo é o centro 6 judaísmo fora da realidade do cristianismo.

Por fim a questão do Nazareno Mt 2,19-23. Algumas explicações Nazir - consagrado, Nazar – aquele que guarda o Espírito de Deus e Nezer - Rebento cf. Is 11,1.

O projecto evangélico de Marcos

Marcos na sua redacção utiliza perícopes mais breves, o que torna o texto mais rápido. Une os episódios apenas com uma partícula copulativa “e”, em grego “kaí”, e como consequência disso a acção acontece-se num ritmo ofegante e acentuado e para isso utiliza os verbos no presente e no gerúndio. O seu discurso é directo, como se estivéssemos dentro dos acontecimentos e a sua linguagem minimalista, torna-se também simples para o leitor, este tipo de escrita é muito comum no grego da Koíne.

A sua Pedagogia é a Fome, a fome da pessoa de Jesus. Por isso o seu grande objectivo e a sua questão, é onde está Jesus. Em dez capítulos muda de local 54 vezes. Na Galileia, as cenas mudam rapidamente o leitor tem dificuldade em situar Jesus, mas uma coisa é certa, à volta de Jesus acontece o progressivo aumento da multidão.

Podemos definir como a Primavera da missão e acção de Jesus quando este está na Galileia e o Inverno é Jerusalém. Na Galileia fugia das multidões em Jerusalém está só. Na Galileia faz milagres e profere parábolas, em Jerusalém é quase passiva a sua acção. Na Galileia o tempo passa rápido, dia após dia. Em Jerusalém acontece uma relentização do tempo, a acção passa de hora em hora. E isto todo para nos conduzir ao centro da vida de Jesus, como está descrito no início do Evangelho, Jesus é o “Filho de Deus” (Lc 1,1).

Um ponto alto e particular neste evangelho é o Segredo Messiânico ou retórica do silêncio, é no silêncio da cruz que se compreende quem é Jesus.

É também chamado de o Evangelho dos discípulos, porque é uma máquina de fazer discípulos e porque só sendo discípulo é que o leitor pode compreender Jesus e este Evangelho.

Um último ponto a destacar deste evangelho é o seu final longo e abrupto Mc 16,1-8. Não terá sido Marcos a concluí-lo e por isso há quem lhe chame também, o final de Marcos, o quinto Evangelho. Este final é um texto literário da antiguidade crista, que tem como objectivo contar a Páscoa do Senhor e consequentemente fechar o evangelho.

Existem várias teses para que Marcos não tenha colocado os relatos pascais. Explicações: 1. Histórico-psicológico, a situação inicial da comunidade era de medo e esse medo era psicológico e consequente afectava a acção dos mesmos; 2. Redaccional, o segredo messiânico, 3. Confessional, sabe mas recusa que o Senhor morreu. 4. Radical, o silêncio coincide com o sepulcro vazio, 5. Apologético, silêncio das mulheres e porque é que Paulo não fala do sepulcro (1 Cor 15). 6. Apologética II, a acusação inicial foi de terem roubado o corpo do Senhor, este final serve como defesa e diz que os discípulos não foram lá, as mulheres não falaram e eles não sabiam que o sepulcro estava vazio.

O projecto evangélico de Lucas

Discurso directo em função dos pagãos. E ao contrário dos restantes sinópticos o narrador é intradiégetico (1ª pessoa). Na sua redacção utiliza muito a Sincrises e a comparação, Jesus – João Baptista, Jesus – Profetas, Jesus – Apóstolos.

A genealogia: Lc 3,23-38. É uma história que começa a partir do primeiro homem, Adão, nele está presente já a vinda do Messias. Caminho e emenda da carência do Homem pecador. Lucas parte do hoje para o passado. Lucas quer ligar Jesus ao Homem, às suas origens. Lucas plasma aqui o seu projecto redaccional a universalidade da salvação. Salvação, o Evangelho de Lucas é o Evangelho da Salvação, Jesus é o salvador. Salvação pela fé Lc7,36-50 e Lc 8,12

Evangelho da infância. Guia para a vida pública de Jesus, antecipa grandes temas teológicos. No relato na anunciação, pivô do evangelho, contêm o essencial do evangelho e a definição cristológica Lc 1, 28-38. Nos capítulos seguintes podem e surgem dúvidas se ele é o messias ou profetas, etc. Antes já tinha sido dito o necessário a seu respeito.

Lc 2,1-21, Maria e José são elementos duma micro história que Lucas liga com uma macro história. Lucas mostra que mesmo numa situação adversa Jesus envolto em panos é prefigurado com o rei Salomão. Gn 3,18 sobre os pastos Jesus é alimento para o Homem decaído. Is 1,3 fatné que significa manjedoura, Ele na manjedoura é apresentado como a nova Torá. O burro e o boi estão presentes para que se cumpra a profecia. O menino impuro por estar coberto de sangue é anúncio do Cristo crucificado.

Neste evangelho podemos identificar uma Teologia alimentar: a mesa, a cozinha. A identidade é defendida e definida através de como vivem a alimentação. A fidelidade do judeu acontece na mesa. O livro do Deuteronómio é um livro de ritos gastronómicos e o livro do Levítico define o que é impuro. Jesus porque escolheu a refeição para a sua definição e perpetuação? Porque bebeu e comeu em comunhão. Lc 7,36; 11,37; 14,1 Jesus revelou se nas refeições. Por exemplo a conversão de Zaqueu é falada à mesa. Lc 14,7-14 é uma passagem que desconcerta, convidar os pobres… Jesus é um benfeitor divino. Mas o seu problema é e será comer com pecadores, porque é isso que lhe vai levar à morte e morte de cruz. Mas faz isso para que todos se salvem porque é nesta mesa que o homem se revela.

Ver Jesus. É o drama da visão é o que torna este evangelho o Evangelho da visão. Há um ver e um não ver. Todos vão a correr, gente que sai de si para ver. O drama da visão tem uma síntese e é a chave de leitura para todo o Evangelho. Lc 24,13-34 é um texto estranho e único de Lucas é um dos fundamentos na obra lucana a história de dois desconhecidos torna-se algo central no evangelho.

Jerusalém-Emaus-Jerusalém, como Gn 1-3 a palavra gerada, o comer e o ver acreditaram. Acontece uma mudança os motivos que os levam a sair de Jerusalém não são os mesmos que os levam a entrar. Este caminho é o caminho pascal. Através dos elementos fundantes como abrir olhos é o passar do ver para o crer (v.16). Dois verbos a destacar sobre o ver, kratao – ver com coração endurecido e guinasko – ver com envolvimento, querer conhecer.

Nazaré é onde a sua morte é prefigurada Lc 4,16-30. Para Lucas Nazaré é importante porque onde começa a sua missão antecipa todo o evangelho. “O Espírito do Senhor está sobre mim”. Ele é o messias e compre a sua missão. Lc 13,33-34 Lc 7,16 Jesus é identificado como profeta, o novo profeta, o novo Moisés.
José Manuel Pasadas Figueira Pimenta
Omnes cum Petro ad Jesum per Mariam

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