quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Evangelho de Marcos
Este é o Evangelho pleno de suspence, que não sabemos como vai acabar. O Jesus de Marcos é desconcertante e surpreendente. Este evangelho é uma encenação entre o Bem e o Mal, o triunfo e o fracasso (assim a entrada de Jesus em Jerusalém é um triunfo que acaba na cruz). Estão em causa a morte e a vida, todo o destino humano. Por isso o Evangelho não é apenas um colecção de episódios ou de moral.
Papias no século II atribui este Evangelho a João Marcos, citado como filho de Pedro (“Marcos, meu filho” in 1Pe5,13). Teria sido escrito em Roma pela década de 60, por um discípulo próximo de Pedro.
É um evangelho escrito tanto para judeus como para gentios. Por isso muitas palavras estão no texto traduzidas do aramaico para o grego. Por outro lado também não sente necessidade de explicar, por exemplo, quem os fariseus eram, supondo que o leitor o entenderia.
O Evangelho não é uma biografia. Tem um certo interesse biográfico da pessoa de Jesus mas falta informação sobre alguns aspectos e detalhes. Por isso é diferente das “vidas Paralelas de Plutino”, escritas também por esta altura.
O Evangelho tem também algo de tragédia: a morte de um inocente. E no entanto não é uma tragédia.
Tem igualmente um estilo de novela, mas também não é uma novela, pois se por vezes se serve dessa forma de contar, a sua base e objectivo é outro: não é entretenimento mas comunicação de uma experiencia de vida.
Tem igualmente parábolas mas não é uma parábola, e midrash sem ser midash.
Assim, o Evangelho é um género literário totalmente novo. Evangelho é a proclamação de que Jesus é o Cristo. O Evangelho conta uma transformação, pois só onde há composição consistente, unitária, coerente e com uma estratégia directiva.
O narrador de Marcos é extradiegético e omnisciente: está fora da história mas sabe tudo. Narra todos os detalhes e pensamentos dos personagens, de modo que o leitor +é mais privilegiado que as personagens.
Com esses apartes, o texto vai ganhando a confiança do leitor. Esta é uma estratégia que se revela decisiva ara o narrador poder depois falar ao leitor da ressurreição de Jesus. É que o narrador procura preparar o leitor para ajudá-lo a aceitar o que é difícil: a ressurreição. Assim, o leitor vai construindo um horizonte sobre o final de Jesus.
Por exemplo, Marcos conta detalhadamente a morte de João Baptista, porque esta prepara o leitor para a morte de Jesus. E tudo o que Jesus anuncia se vai cumprindo, dando-lhe credebilidade.
Marcos compõe ainda um Evangelho muito visível: a escrita ganha muita vida porque os episódios são breves e sucedem-se rapidamente. Marcos recorre muito ao uso de “e” e aos particípios. Temos muita acção. Apenas tem dois monólogos (mc.4,1-33 e Mc.13,1-37) porque Jesus é sobretudo alguém que actuam, maisdo que fala.
A acção está dividida em dois momentos: o ministério de Jesus na Galileia (cap.1 a 10) e em Jerusalém (cap.11-16).
Ora na Galileia temos sempre um espaço muito definido (“algures”, “no caminho”), mas em Jerusalém sabemos sempre onde a acção decorre. Na Galileia a temporalidade é lenta e simbólica. Em Jerusalém as horas são referidas e sucedem-se.
Marcos serve-se ainda da recursos de grande satisfação repetindo detalhes a fim de que o leitor fixe determinada mensagem:
.”Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” Mc1,1
.”Tu és o Cristo” (Pedro) Mc8
.”É verdadeiramente o Filho de Deus” (centurião) Mc.15,3
Marcos erve-se também de cenas tipo, em especial oos relatos de milagres, composto por vários pontos:
1- abeirar-se;
2- petição;
3- vencer um obstáculo coom forma de revelar a Fé;
4- acção de Jesus que toca ou pronuncia palavras;
5- o efito;
6- a recepção
Estes pontos são muito úteis para o leitor, pela sua simplicidade e pedagogia.
Marcos usa também episódios-colchete: Mc.12,41 e Mc.14-3.
A mulher também ela foi extravagante. Depois a viúva deu para o templo, e a mulher deu para o tempo que é Jesus.
Usa também cenas em sanduwish.
Marcos também usa muito a progressão em três passo, para mostrar que com Jesus as coisas têm sempre um meta-significado.
Mc.14: Jesus reza três vezes e por três vezes encontra os discípulos a dormir
Mc.15:Pilatos interroga três vezes a multidão, que recusa três vezes
Mc.15,25:Era a hora terceira
Mc.15,33: até à hora nona a terra teve três horas na escuridão
Temos ainda 3 relatos vocacionais, 3 conflitos na barca e 3 anúncios da morte de Jesus. Assim o que começa no 1 deve cumprir-se no 3. Por Marcos é tido também como o Evangelho do caminho.
E de facto, Marcos vai desta forma fazendo caminho com o leitor. O texto tem assim uma pedagogia de credibilidade em relação ao seu leitor.
Por outro lado, são muitas as perguntas que em Marcos não tem resposta, criando um texto mais aberto para o leitor ir caminhando sempre de pergunta em pergunta. São perguntas sem resposta, que implicam e comprometem o leitor com o texto (Mc4,40). Outras vezes, Jesus responde a uma pergunta com outra pergunta (Mc.12,10-11; Mc.12,14-16). Isto cria no texto uma tensão revelatória essencial para o leitor.
Depois, Marcos é muito realista. O cenário do mundo tem doenças, morte e sofrimento. O Evangelho conforta-se com um mundo em que os homens não estão felizes. Mas aos poucos o tempo vai sendo preparado a partir do tempo teológico da salvação “cumpriu-se o tempo, avizinha-se o reino de Deus”.
E ao longo do Evangelho, Jesus percorre esse mundo todo, nunca se fixando senão em Jerusalém. Na Galileia muda de lugar 40 vezes até que chega a Jerusalém, pois é para lá que todo o Evangelho aponta: para o ligar da luz.




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