quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Diferenças sinópticas entre Marcos e Mateus - Os milagres

Diferenças sinópticas entre Marcos e Mateus
Os milagres

Um caso onde podemos constatar as diferenças entre os evangelhos sinópticos é no entendimento que cada evangelista tem dos milagres de Jesus e o sentido teológico que lhes concede no contexto do seu evangelho e do seu projecto teológico.

Os milagres em Mateus
Os milagres em Mateus em primeiro lugar encontram-se agrupados em secções que conferem ao próprio evangelho um agrupamento que claramente não seria a natural, como por exemplo o facto de Jesus realizar dez milagres seguidos nos capítulos 8 e 9. Além disso em Mateus encontramos uma ligação entre a pregação e os milagres (de facto a secção de 8-9 vem na continuação do sermão da montanha que se encontra em 5-7) o que pode indicar que para o autor mateano os milagres são outra forma de ensinar de Jesus.
Os milagres podem ser por isso entendidos como uma forma de anúncio da pessoa de Jesus de uma forma subsidiária, ou seja, independente dos discursos de Jesus, mas, ao mesmo tempo subordinada à palavra que Jesus anuncia. Com efeito, dentro do projecto teológico de Mateus sobressai a figura de Jesus como o novo Moisés, ou seja, como aquele que na continuidade da lei vai anunciar algo novo e que acompanhando esse anúncio são realizados milagres.

Os milagres em Marcos
Os milagres em Marcos tendem, diferentemente do projecto mateano, tendem a ser uma forma de proclamação do reino de Deus. Com efeito a grande proclamação de Marcos é que o Reino de Deus chegou (Mc1, 14-15), e os milagres que acompanham a pregação de Jesus servem para mostrar que esse reino já está presente.
Outro facto relevante na tipificação dos milagres de Jesus é que um tema fundamental desses milagres é a libertação de espíritos impuros, facto derivado de que na concepção do primeiro século a maior parte das doenças é originada pela presença de espíritos impuros nas pessoas. Assim, para Marcos os milagres de Jesus querem mostrar que Jesus tem poder de perdoar os pecados.
Os milagres em Marcos, por outro lado são também uma forma de instrução para os discípulos, com efeito os milagres que eles experimentam visam formar os discípulos e conduzi-los num caminho de maturação da fé, como podemos ver no relato da tempestade acalmada (Mc 4,35-41).
Em Marcos os milagres de Jesus tem ainda como função serem sinais do Messias, por exemplo no marco da questão sobre Jesus (Mc 6,14-8,30) a bloco mais importante é «secção sobre o pão» (Mc 6, 30-8, 26) que no seu interior relata dois milagres de multiplicação de pães (Mc 6, 32-52 e Mc 8, 1- 10). Deste modo, Marcos apresenta Jesus como aquele que vem pastorear o novo povo de Deus (Mc 6, 34) e que dá novamente o maná (Mc 6, 41).

Assim, com estas diferenças que são apresentadas em forma de sumário, podemos constatar que existem diferenças na concepção dos milagres nos diversos evangelhos sinópticos, diferenças essas que decorrem dos diferentes projectos teológicos.

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