sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Genealogia de Jesus - Como Mateus viu Raab?

Como Mateus viu Raab?
As genealogias judaicas, em geral, eram frutos de elaboração institucional. Nelas, só tinham presenças garantidas os homens e, assim mesmo, se estivessem dentro do esquema do palácio, da cidade de Jerusalém ou em torno da instituição religiosa. Em geral, em torno ao Templo. Mateus, em boa parte de sua genealogia, contempla a memória popular e, neste viés, introduz as pessoas mais rejeitadas para um “bom israelita”. As mulheres. Raab era mulher, era prostituta, era estrangeira. Para Mateus Raab entrou, legalmente, na história dos israelitas. A salvação vem dos “últimos”, os solapados pela sociedade. O Reino vai além dos limites prescritos pela lei. Raab salvou os seus parentes, a sua vida, a dos espiões e abriu as portas para a entrada na terra, pela fé em Javé. É, portanto, a perpetuação do nome de Raab na genealogia de Jesus, uma critica muito dura ao “purismo” dos escribas e fariseus, descendentes ideológicos de Esdras, bem como à sociedade machista dos tempos de Jesus e da comunidade mateana. O interessante aqui em Mateus é que não sabemos de onde ele teve informações de que Raab foi a mãe de Boás. Possivelmente, era uma memória popular que chegou até os redatores mateanos. Nas informações populares de Mateus, ele “arranjou um jeito” literário e teológico para informar quem era aquele extraordinário Boás que vai ser o Goel de Rute libertando-a com a lei do “resgate” e do “levirato” (cunhado). De fato, Boás, no livreto de Rute, será como um novo juiz, bem ao estilo tribal, que na época de Esdras, se oporá a todas as leis que matavam os pobres e expulsavam as estrangeiras. Boás será como o futuro Messias. De onde é Boás, conforme Mateus? De Belém (Rt 2,4). De onde é o Jesus de Mateus? De Belém (Mt 2,1). Daí vem a dinastia de Davi. Então, “Salmon gerou Boás, de Raab” (Mt 5,1ª). Portanto, a nossa Raab (= terra farta) e o Salmon (= luz) geraram um dos magníficos personagens do Antigo Testamento, o Boás, tão querido no livreto de Rute. Boás, no Evangelho de Mateus, é figura exponencial, também, porque faz o elo da grandeza das excluídas: ele é filho de uma ex-postituta (alijada no meio judaico) e assume uma estrangeira (execrada pelo mundo judaico-esdriano) que, com ela, gerará um filho que fará vir o Messias. Não é possível falar de Raab sem anunciar Boás; não é possível falar de Rute, sem proclamar Boás. É Raab, a segunda resistente incluída na genealogia para se compreender omessianismo de Jesus. E que resistente!

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