quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

6 | Evangelho de S. Marcos

Evangelho de S. Marcos:

O Evangelho começa com a predicação de João Baptista, terminando com a mensagem do Anjo, no sepulcro vazio.

Inicia o seu evangelho como titulo: “Principio do Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1,1). Considera-se que este evangelho se encontra dividido em duas partes, sendo que a primeira até 8, 30. A segunda parte começa com o anúncio de algo novo, feito por Jesus ”Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha de sofrer muito...” (8,31). Este relato estende-se até ao final do Evangelho.

A primeira parte deste evangelho termina com a resposta de Pedro, uma confissão, à pergunta de Jesus “E vós, quem dizeis que Eu sou?”, sendo que Pedro responde: “Tu és o Messias” (8, 29).

A segunda parte termina da mesma maneira, com a confissão do centurião, um pagão que se encontra junto da cruz, que exclama quando Jesus morre: “Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus!” (15, 39).

Em toda a obra é possível observar várias referências a Jesus, como sendo Filho de Deus:

  • Mc 1, 11 – “ E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado””.
  • Mc 9, 7 – “Formou-se, então, uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: “Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o””.
  • Mc 15, 39 – “O centurião que estava em frente dele, ao vê-lo expirar daquela maneira, disse: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!””.

Primeira parte – Jesus, o Messias (1,1 – 8,30)

Nesta parte do Evangelho, Jesus faz uma serie de milagres e exorcismos, levando à admiração das multidões, algo que ao longo do Evangelho vai mudando, dando lugar à incompreensão e objecção.

Também existe um grande apelo por parte de Jesus para que se guarde segredo sobre a Sua pessoa, repreende demónios e apela ao segredo por parte dos discípulos e pessoas que cura.

Mc 1, 23-2523Na sinagoga deles encontrava-se um homem com um espirito maligno, que começou a gritar: 24“Que tens a ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos arruinar? Sei quem Tu és: o Santo de Deus” 25Jesus repreendeu-o,

Dizendo: “ Cala-te e sai desse homem””.

Mc 1, 3434Curou muitos enfermos atormentados por toda a espécie de males e expulsou muitos demónios; mas não deixava falar os demónios, porque sabiam quem Ele era.”

A cura da filha de Jairo - Mc 5, 42-4342E logo a menina se ergueu e começou a andar, pois tinha doze anos. Todos ficaram assombrados. 43Recomendou-lhe vivamente que ninguém soubesse do sucedido e mandou dar de comer à menina.”

A revelação da pessoa de Jesus vai realizando-se lentamente. Primeiramente com o anuncio de João Baptista que virá alguém mais digno do que ele, Mc 1, 7-8 – 7E pregava assim: “Depois de mim vai chegar outro que é mais forte do que eu, diante do qual não sou digno de me inclinar para lhe desatar as correias das sandálias. 8Eu baptizei-vos em água mas Ele há-de baptizar-vos no Espírito Santo””.

Depois no baptismo de Jesus, o anuncio vindo do céu, Mc 1, 10-11 – 10 Quando saía da água, viu serem rasgados os céus e o Espírito descer sobre Ele como uma pomba. 11E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu agrado.””

Assim, desde o inicio do evangelho, o leitor ganha consciência, que o próprio Deus proclama Jesus como seu filho.

Apesar de Marcos mostrar que Jesus, guarda zelosamente a sua condição divina, introduz alguns pormenores que demonstram a sua condição humana:

§ Mc 3, 5 – “...olhando-os com indignação e magoado...”

§ Mc 5, 30-32; 9, 16;21;33 – “ ...Jesus perguntou...” / “...Ele perguntou...”

§ Mc 6, 6 – “Estava admirado...”

§ Mc 8, 12 – “ Jesus, suspirando profundamente...”

§ Mc 10, 14 – “...Jesus indignou-se...”

§ Mc 11, 12 – “...Jesus sentiu fome.”

Marcos transmite a imagem de Jesus, como um homem comum realizando coisas extraordinárias.

O seu relato das tentações é bastante reduzido, quando comparado com os relatos de Mateus e Lucas.

Mc 1, 12-13 – “Em seguida, o Espirito impeliu-o para o deserto. E ficou no deserto quarenta dias. Era tentado por Satanás, estava entre as feras e os anjos serviam-no.”

Jesus começa a predicar adquirindo a admiração de muitos, pois ensinava sem citar a autoridade de outros mestres, mostrando a sua autoridade a palavra realizava o que dizia. Além de admiração provoca também a interrogação de outros.

Mc 1, 22 – “E maravilhavam-se com o seu ensinamento, pois os ensinava como quem tem autoridade e não como os doutores da Lei.”

Mc 1, 27 – “Tão assombrados ficaram que perguntavam uns aos outros: “Que é isto? Eis um novo ensinamento, e feito com autoridade que até manda os espíritos malignos e eles obedecem-lhe!””

No entanto, a autoridade de Jesus irá ser questionada, quando cura o paralítico, Mc 2, 1-12. É acusado de blasfémia, quando perdoa os pecados, sendo que o único, com autoridade para tal seria apenas o próprio Deus.

Mais tarde, provoca uma serie de duvidas perante o seu comportamento, pois come com os pecadores, não jejua, não realiza o descanso obrigatório do dia de sábado, curando um homem de mão paralisada num sábado, Mc 2, 15 a Mc 3,6.

Existe uma certa contrariedade relativamente a Jesus, pois ora viola a Lei, ora realiza milagres. No entanto, as suas acções irão levar a reacções de descontentamento, reprovação e incredulidade:

Mc 3, 6 “Assim que saíram, os fariseus reuniram-se com os partidários de Herodes para deliberar como haviam de matar de Jesus.”

Mc 3, 21 – “...E quando os seus familiares ouviram isto, saíram a ter mão nele, pois diziam: “ Está fora de si!”

Mc 3, 22 – “E os doutores da Lei, que haviam descido de Jerusalém, afirmavam: “Ele tem Belzebu!” E ainda: “É pelo chefe dos demónios que expulsa os demónios.””

Mc 4, 39 – “...Acordaram-no e disseram-lhe: ”Mestre não te importas que pereçamos?” Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: “Cala-te e acalma-te!”. O vento serenou e fez-se grande calma.”

Mc 4, 40; 6, 52; 8, 17-21“...Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” / “...pois ainda não tinham entendido o que se dera com os pães: tinham o coração endurecido.”

É neste clima de hostilidade para Jesus, onde até na sua pátria é renegado, Mc 6, 4-6 – “Jesus disse-lhes: “ Um profeta só é desprezado na sua pátria, entre os seus parentes e em sua casa.” E não pôde fazer ali milagre algum. Apenas curou alguns enfermos, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente.”, que Marcos finaliza a primeira parte do seu Evangelho, concluindo com a resposta de Pedro à pergunta de Jesus: Mc 8, 29 –“E vós, quem dizeis que Eu sou?”, sendo que Pedro responde Mc 8, 29 –“ Tu es o Messias”, um dos primeiros títulos dado a Jesus no inicio do Evangelho.

Segunda parte – Jesus, Filho de Deus (8,31 – 16,8)

Esta segunda parte começa com algo novo, o primeiro anuncio da Paixão:

Mc 8,31 – “Começou, depois, a ensinar-lhes que o Filho do Homem tinha que sofrer muito e ser rejeitado pelos anciões, pelos sumos sacerdotes e pelos doutores da Lei, e ser morto e ressuscitar depois de três dias.”

Agora surge um novo tema, a necessidade do sofrimento, deixando de ser necessário o segredo perante a pessoa de Jesus. Marcos irá demonstrar que Jesus, não é um Messias glorioso, mas sim sofredor.

Graças à compreensão por parte dos discípulos que Jesus é o Messias, já é possível Jesus explicar a sua obra messiânica, realizada através da dor, do sofrimento, da morte e ressurreição.

Pela primeira vez Jesus irá transfigurar-se perante alguns discípulos, sendo que as exigências do Filho deverão ser escutadas, pois a sua autoridade é confirmada pelo Pai. O caminho da cruz de Cristo irá terminar na glória do Pai. Também aos homens que seguem Jesus no seu caminho, ser-lhes-á concedido a participação da mesma glória com Ele.

Mc 9, 2 – “Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e levou-os, só a eles, a um monte elevado. E transfigurou-se diante deles.”

Mc 9, 7 – “Formou-se, então, uma nuvem que os cobriu com a sua sombra, e da nuvem fez-se ouvir uma voz: “Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o.””

Jesus começa a caminhar para Jerusalém, onde durante o caminho vai recordando aos discípulos que irá padecer, os quais muitas vezes não entendem, mas também receiam questioná-Lo.

Ao longo de todo o caminho, Marcos relata alguns ensinamentos de Jesus, sobre o verdadeiro “seguimento”.

Jesus ao chegar a Jerusalém de forma solene, sendo aclamado pelas multidões (Mc 11, 1-11), seria de esperar que fosse a casa do governador, no entanto, apenas se dirigiu ao templo onde entrou, olhou e saiu, (Mc 11, 11).

Marcos inicia o relato da Paixão, mostrando tanto os sumos sacerdotes, como os escribas procuravam Jesus para o matar, sem existência de uma audiência prévia.

Mc 14, 1 – “Faltavam só dois dias para a Páscoa e os Ázimos, e os sumos sacerdotes e os doutores da Lei procuravam maneira de capturar Jesus à traição e de o matar.”

Por outro lado, uma mulher derrama sobre a cabeça de Jesus um perfume muito caro, durante a ceia, levando à indignação e protesto perante os presentes (Mc 14, 3-9).

Marcos enquadra o relato da ultima ceia (Mc 14, 22-25), em duas passagens referentes aos discípulos, o anuncio da traição de Judas (Mc 14, 17-21), e o anuncio das negações de Pedro (Mc 14, 26-31).

Marcos demonstra interesse em expor elementos contraditórios, como a atitude dos sumos sacerdotes e escribas em querer matar Jesus, e a atitude da mulher ao derramar um perfume caro sobre Jesus; o acontecimento da ultima ceia, onde são ao mesmo tempo anunciadas a traição de Judas e as negações de Pedro.

A prisão de Jesus é marcada pelas suas palavras Mc 14, 48-50 – “Tomando a palavra, Jesus disse-lhes: “Como se eu fosse um salteador, viestes com espadas e varapaus para me prender! Estava todos os dias junto de vós, no templo, a ensinar, e não me prendestes; mas é para se cumprirem as Escrituras.”

Perante o tribunal, Jesus apresenta uma atitude diferente, relativamente às observadas durante todo o Evangelho. Pois anteriormente, Jesus nunca respondia às perguntas sobre a sua pessoas, “Quem és tu?”, no entanto, perante o tribunal, que não apresenta nenhuma testemunha que o possa condenar, será o próprio Jesus, que irá responder, dando o testemunho que O levará à cruz (Mc 14, 61-62).

Relativamente ao relato do julgamento perante Pilatos, ocorre um paralelismo, pois existe uma passagem de injúrias por parte dos soldados romanos (Mc 15, 16-20), assim como, uma outra passagem de injúrias por parte dos Judeus (Mc 14, 65), sendo que Judeus e pagãos injuriam Jesus.

Por fim, chega-se à segunda confissão, onde o centurião romano confessa o segundo titulo, presente no inicio do Evangelho: “Filho de Deus”, e aclamado por Deus, duas vezes ao longo do Evangelho (Mc 1,11 e 9,7).

Mc 15, 39 – “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus.”

O Evangelho apresenta um final abrupto (Mc 16, 1-8), onde as mulheres vão ao sepulcro para embalsamar o corpo, encontrando o mesmo vazio. O facto de levarem perfumes para embalsamar o corpo de Jesus, demonstram que não esperavam a ressurreição. Apenas encontram um Anjo, que lhes dá a mensagem da ressurreição. Enchem-se de temor, em vez de se alegrarem, guardando segredo do sucedido.

Mc 16, 8 – “Saíram, fugindo do sepulcro, pois estavam a tremer e fora de si. E não disseram nada a ninguém, porque tinham medo.”

O Evangelho de Marcos termina sem relatar as aparições de Jesus, ressuscitado, apenas deixando o leito com uma mensagem de um Anjo.É de realçar que Marcos comparativamente com os outros Evangelhos não apresenta a infância de Jesus, nem a oração do Pai Nosso ou as Bem-aventuranças.

As tentações resumem-se a uma única frase, como referido anteriormente. Trata-se de um Evangelho claro e preciso, sendo que todas as palavras são importantes.

Sem comentários:

Enviar um comentário