quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Evangelho de Mateus

É o primeiro do Cânon porque é tido como o Evangelho por excelência. Teve grande acolhimento na Igreja primitiva, pois fala também das relações entre a Igreja e o mundo Judaico.
Terá sido escrito nas décadas de 80/90, após a destruição do templo, de Jerusalém, tal como parece sugerir o Capitulo 24.
Após a destruição do templo, o judaísmo vai renascer em torno da academia de Jamnia, graças a Joaquim Ben. Ora este judaísmo vai opor-se ferozmente ao cristianismo, que tinha sido neutro na guerra contra os romanos.
Então Mateus escreve este Evangelho em jeito de resposta aos judeus. Por isso mostra a Igreja e os cristãos como o novo Israel. No entanto para não limitar o Cristianismo, ás fronteiras do Judaísmo, Mateus também não estabelece um paralelismo absoluto. Assim, vemos que em Mateus nada é por acaso.
Mateus é portanto escrito como apologia de Jesus e da experiência cristã contra o judaísmo saído de jamnia, que acusava os cristãos de não terem defendido Jerusalém nas guerras judaicas contra os romanos, o que de facto aconteceu porque:
-os cristãos esperavam a vinda de Jesus, a parousia, pelo que a destruição de Jerusalém era sinal dessa vinda escatológica, e por isso a destruição era inevitável.
-a esperança dos cristão era diferente da dos judeus.
-o cristianismo tinha já uma consciência universal, não se limitando ao universo judeu.
-os cristãos reproduziam o modelo de profeta Jeremias aquando do ataque de Babilónia, e tal como o profeta confortavam-se com a história.
-os cristãos não queriam fundar no judaísmo a sua identidade, mas em Jesus. A Igreja era agora as antigas doze tribos de Israel, pelo que não havia razão para lutar pelo antigo: a Igreja de Jesus é que era o herdeiro de Israel.
Assim, Mateus é um Evangelho escrito num contexto delicado. Era preciso associar a noção judaica de Messias com a ideia de cruz, sinal de maldição para os judeus.
Não bastava falar de Jesus ás gerações seguintes, mas defende-lo dos ataques e mentiras do judaísmo. Como tal, Mateus precisava de mostrar que Jesus não era um embusteiro, mas que tinha um passado que o certifica e lhe dá credibilidade. Por isso o Evangelho abre com a genealogia de Jesus, para mostrar que Jesus está na linhagem de David: Jesus é o novo David.
Para reforçar a relação de Jesus com a tradição judaica, Mateus apresenta ainda cinco mulheres nessa genealogia: Tamor, Roab, Rute, a mulher de Urias, e finalmente, Maria. As quatro mulheres conceberam e eram à luz de uma maneira especial, pelo que assim a virgem Maria que concebe ganha outra verosimilhança. Mateus mostra assim que o nascimento de Jesus de Maria não é uma farça, e que casos parecidos aconteceram já na história de Israel.
E Mateus fala três vezes de 14 gerações porque Jesus é três vezes David. A relação que Mateus estabelece com o Antigo Testamento passa também pelo uso de síncrise: construção de um personagem em paralelo com outro personagem. Assim temos José em oposição a Herodes. Mateus mostra que, tal com Saul se tinha revoltado contra David, também Herodes se volta contra Jesus, qual novo David. É uma actualização do livro dos Reis.
Também a fuga para o Egipto serve para actualizar o Antigo Testamento, segundo a profecia de Oseias 11,1.
No capitulo 2, Mateus relata a vinda dos reis magos, mostrando que antes mesmo de Jesus falar, já havia quem o procurasse. E foram juntos de Herodes, Ora não se vai junto do rei a propósito de qualquer um, pelo que Mateus reforça assim a importância de Jesus.
Os sábios do rei Herodes vão ainda ás Escrituras e identificam lã a geografia do nascimento de Jesus, reforçando a sua importância, pois até as Escrituras já se referiam ao nascimento de Jesus.
E se Jesus era uma ameaça para Herodes, é porque Herodes sabia bem quem era Jesus. Desta forma, Mateus mostrava aos judeus que não adiantava esconderem quem Jesus era, pois até o próprio Herodes o tinha logo reconhecido.
Jesus também regressa do Egipto, tal como outrora o povo de Israel tinha saído do Egipto pela mão de Deus: assim, Mateus mostrava que com Jesus começa o novo povo de Deus.
Finalmente, Jesus é o Nazareno. Três hipóteses para tal:
-pode derivar não de Nazaré, mas de Nazir--consagrado
-ou de Nezer--rebento, conferir Isaías ”nascerá um rebento”
-ou de Nasar--guardar, conferir Isaías “há-de guardar em seu coração”
Desta forma, vemos que o Evangelho de infância de Jesus constitui uma chave de leitura para toda a vida de Jesus. É um guia proléptico para acompanharmos Jesus.
Mateus relê a história de Israel, colocando Jesus no centro. È uma hermenêutica cristã da historia de Israel, em que cada elemento se reveste de segundos sentidos.
Mateus mostrava assim ao judaísmo que Jesus vinha na continuação da tradição judaica, e que põe isso não o poderiam negar. Através duma prosa tão encantadora que é o Evangelho da infância, Mateus elabora toda uma teologia de combate contra o judaísmo em defesa de Jesus.
Também por isso, ao longo de todo o Evangelho, Mateus cita muito o Antigo Testamento.
Tal como os cinco livros da Thorah, Mateus reproduz cinco discursos de Jesus: Sermão de Montanha e Anuncio de Reino; Discurso de missão; Parábolas; Discurso eclesial; Discurso escatológico.
Divisão da obra em três partes: Mateus 1,1; Mateus 4,17; Mateus 16,21
Divisão em seis partes:
1- Introdução 1,1-4,22
2- Jesus, poderoso em palavras e obras4,23-9,35
3- Envio dos discípulos 9,36-12,50
4- Formação dos discipulos13,1-17,27
5- Rutura com judaísmo18,1-22,46
6- Discurso de despedida, paixão e relatos pascais23,1-28,20




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