quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Evangelho de Lucas
O Evangelho de Lucas abre com os textos da infância de Jesus. Aqui. O ponto de vista é o de Maria. A anunciação contém afirmações máximas de Jesus, que depois não são retomadas mais. De facto, o Evangelho da infância é uma espécie de guia proléptico de todo o Evangelho.
A partir de vida pública de Jesus, já são só aqueles têm Fé que fazem afirmação sobre Jesus. E são sempre as pessoas mais inconvenientes a testemunhar Jesus: os doentes, pecadores, …
O modo como Jesus fala e actua permitem lançar a luz para a compreensão de quem ele é. Por isso, no macro-relato tudo se orienta para a revelação da pessoa de Jesus. Lucas é um relato de revelação.
E que o magistério de Jesus é muito diferente do dos seus predecessores. Ele é um mestre singular e tem autoridade que lhe vem dele próprio, escolhendo os seus discípulos em seu próprio nome.
Esta questão da autoridade é fundamental pois o judaísmo do tempo de Jesus vivia uma profunda crise de autoridade. Ora no seio dessa crise emerge Jesus a reivindicar autoridade.
Em Lucas 20,1.8, Jesus esta no templo, espaço da autoridade por excelência, e é confrontado com a questão da autoridade. Mas Jesus não lhes revela de quem vem a sua autoridade, mas o leitor sabe que ela vem de Deus, não porque Jesus no-lo diga, mas porque as suas acções e obras o manifestam: curas de doenças, expulsões de demónios, autoridade taumaturga sobre a natureza e sobe a morte, etc.
Como tal, estes milagres não são magia, mas acontecem pela força da palavra de Jesus. E pela Fé, o crente experimenta o Reino de Deus, pois Jesus não se fica pela cura. Assim o milagre é m episódio de Fé.
Os milagres são sinal da inserção de Reino de Deus na história, que está doente. Os milagres são renovação escatológica do real e apontam para o futuro. Por isso aqueles que Jesus curou são sinal e garantia de futuro.
Em Lucas, Jesus aparece como Mestre e todos estão de acordo sobre isso. Por isso Jesus aparece a ensinar e há quem o escute (conferir 4,15; 11,1; 9,14; 10,39).
E então Lucas constrói a pessoa de Jesus tentando hipóteses:
Jesus aparece como subversor:”encontramos este homem subvertendo a nossa nação” (lc23,2). Jesus coloca-se em linha de colisão com as autoridades. Ele esvazio o papel do templo, substituindo-o no perdão dos pecados (conferir Lc.13,34-45; 19,41-44; 21,20-44).
É que Jesus não se limita às fronteiras judaicas mas alarga-se e por isso é acusado de violar o sábado, não respeitar os jejuns, conviver com publicanos e pecadores, etc.
Assim, Lucas mostra que Jesus vai Às situações concretas e limites para as transformar. Lucas quer que Jesus seja entendido como o grande transformador, como revelador de um Deus actua hoje e transforma o concreto das vidas.
Jesus aparece também como o profeta. Em Lucas 4,16-30 Jesus compara-se com o paradigma profético, e cita Elias e Eliseu, porque foram os dois únicos profetas que fora, unidos, com Jesus o será.
Se em Marcos e Mateus há uma identidade entre Elias e João Baptista (ele «é o Elias que estava para vir» Mateus 11,14) em Lucas não temos esse paralelismo. Isto porque Lucas concede a João Baptista uma função muito restrita, a de cultivar a expectativa pelo tempo iminente do julgamento. Assim, para Lucas, o novo Elias não é João mas o próprio Jesus, profeta.
Mas que tipo de profeta vê a multidão em Jesus?
Em Lucas 7,16 temos «um grande profeta» Óscar Cullmann afirma que estes adjectivos não eram aplicados ao messias escatológico, pelo que Jesus era ainda incluído na linhagem dos profetas antigos.
Segue-se depois o episódio da pergunta da João Baptista e da refeição em casa do fariseu.
A pergunta de João Baptista é saber se Jesus é o profeta escatológico, o que estava para vir, ou se era apenas mais um profeta. E a resposta de Jesus não é uma definição sobre a sua pessoa, mas ma cristologia narrativa, uma definição sobre si próprio que se constrói a partir dos efeitos das suas acções e gestos, usando termos de Isaías:«os cegos vêem, os coxos andam, etc» (Lc7,22). Cinco milagres, mais os pobres que são evangelizados, em jeito de remate final.
E Jesus conclui com um macarismo, que naturalmente aponta para a escatologia (Lc7,23)
Lucas quer também mostrar que Jesus é o novo Moisés.
Em Lucas 13,33, Jesus assume-se como profeta, mas mesmo aqui esse título tem apenas uma natureza funcional. E a própria acção de Jesus põe vezes em causa esse título de profeta. Assim, a categoria de profeta é importante para perceber Jesus, mas é tb insuficiente. Em Lucas, são várias as categorias para falar de Jesus (mestre, profeta, taumaturgo) mas o que é decisivo é apresentar Jesus como o salvador.
Lucas é o Evangelho da Salvação.

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