quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

O sentido dos números em S. Mateus

O sentido dos números em S. Mateus

          “Para apresentar de um modo claro, sistemático ao mesmo tempo que intuitivo, os diversos quadros do seu evangelhos, Mateus recorre a agrupamentos significativos, não apenas nos discursos, de onde as sentenças de Jesus se encadeiam graças a técnica das palavras da organização, mas também nas partes narrativas de onde os relatos se sucedem e se correspondem.
              S. Mateus recorre a aritmética teológica dos rabinos para quem as cifras tem um valor simbólico: “Um”é o número de Deus, o único (18,5; 19,6.17…); “Dois”, é o da criatura, que se manifesta sempre em uma dualidade (8,28; 9,27 e 20,30; 8, 18-22; 26,60…), requerida para a dualidade do testemunho; “Três” é ao mesmo tempo a constituição do homem – espírito, alma e corpo – e a continuidade da sua natureza (1,17; 2,11; 6,1-18.31; 19,12; 23,20-22.23; 26,36-45.69-75…) “Quatro”, representa o universo da criação que se estende aos quatro pontos Cardeais (4 palavra de totalidade em 28,18-20; “parusia” em 24,3.27.37.39); “Cinco” é a cifra da acção divina (5 discursos; 5 tipos de enfermos curados em 4,24 e 5 regiões em 4,25; 5 relações em 5,21- 47…), porque a Lei compreende, 5 livros, enquanto que “Dez” expressa a acção humana (10 sinal de poder em Mt. 8-9; 10 vezes “vosso Pai” nos capítulos 5 -7; 10 virgens em 25,1); o número “Sete” simboliza a história humana, a partir dos sete dias da criação e por extensão o número pagão (7 pedidos do Pai nosso em 6,9-13; 7 parábolas no capítulo 13; 7 pães y 7 canastras em 15,34-37; 7 demónios em 12,45; 7 (ou 8) lamentações contra os fariseus em 23,13-32…) a partir daí “ Seis” manifesta carência, enquanto que “Oito” marca a plenitude ou o cumprimento ( 8 bem-aventuranças em 5,3-10); “Doze” finalmente, simboliza a comunidade, em relação com as doze tribos de Israel (Israel aparece 12 vezes no Evangelho, como as palavras “juízo”, “ensinando”, e se encontram 12 cestas em 14,20; há 12 etapas no evangelho de Mateus).
                Outro tipo de utilização dos números é a geometria ( do grego geometria), procedimento que consiste, sobretudo em somar o valor numérico das letras hebraicas, afim de descobrir correspondências misteriosas de ordem teológicas. Os hebreus, como os gregos e latinos, indicavam as cifras com as letras do alfabeto. Assim, 16 em cifras romanas se escrevem com três letras: XVI, das quais, expostas de outro modo, formam a palavra VIX ( = apenas) cujo valor numérico = 5+1+10 = 16. Inversamente, tem se tentado ler as parábolas como se fossem número; assim lendo a palavra “vil” como cifra romanas, nos dá 5+1+50 = 56.
Mateus utiliza este procedimento para indicar que Jesus é da estirpe davídica: os três grupos de catorze gerações da genealogia de Cristo (1,17) reproduzem a número de David ( DaWid = 4+6+4 = 14).
         Este engenhoso sistema, empregue tradicionalmente pelos rabinos, se desenrolará de um modo sistemático na Cábala, palavra do hebraico ( qabbalah) = acolhimento hospitalidade) que designa um movimento de filosofia mística do judaísmo medieval, que tendia a união com Deus mediante o conhecimento intimo das harmonias do universo e utilizava uma linguagem codificada que explicava o mistério dos números” Joseph Auneau (179)

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