sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

BROSSIER, François - «Les Évangiles disent-ils vrai?»

A questão sobre a veracidade histórica de Jesus, contida nos Evangelhos:

A questão sobre a veracidade histórica de Jesus, contida nos Evangelhos, nunca foi tão veemente colocada como no séc. XX.

Algumas fontes extra-bíblicas (Flávio Josefo) testemunham que, de facto, Jesus existiu, morreu numa cruz e que tinha perto de si um grupo de outros homens que com ele convivia. No entanto, tais factos não podem servir de base para uma verificação histórica dos evangelhos. Coloca-se, então, a questão: são viáveis?

Esta pergunta torna-se mais pertinente quando se verifica que os relatos evangélicos não são de todo iguais, isto é: há diferenças de conteúdo entre os três evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) e destes com o de João. Levanta-se outra questão: qual a razão?

Neste contexto, o professor catedrático do instituto católico de Paris explica que o termo «história» presta-se a diferentes acepções: apresentar factualmente os acontecimentos; relatar factos imaginários (por exemplo: «contar uma história»); proceder a uma interpretação da realidade dos eventos.

No caso dos evangelhos estamos perante uma destas acepções. Os evangelistas não procuraram tanto uma descrição factual da história de Jesus, mas sim conservar o testemunho e a pregação daqueles que foram protagonistas de uma autêntica aventura. Por outro lado, a vontade que preside ao trabalho dos evangelistas é a de fazer compreender ao leitor o sentido e significados da vida, morte e ressurreição de Jesus: estão, portanto, ao serviço da interpretação sobre a pessoa de Jesus.

O questionamento sobre a veracidade histórica de Jesus procede da cultura dominante – marcada fortemente pelo positivismo histórico e científico. O teólogo Paul Ricouer dá um enorme contributo para alargar esta redutora concepção histórica. Segundo Ricouer há duas maneiras de escrever história: a representação e a produção.

Deste modo, no caso dos Evangelhos estamos mais próximos da produção do que, meramente, de uma reprodução. O fundamentalismo e a desvalorização da sua credibilidade, por parte do leitor, revelam a incapacidade para a compreensão da natureza da história que está por detrás da redacção evangélica, bem como, a incapacidade para se colocarem na pele do respectivo autor.

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