terça-feira, 2 de novembro de 2010

Sequência narrativa: Lucas 14, 1-24
As razões pelas quais escolhi esta sequência de Mateus são as seguintes. Em primeiro lugar porque nos encontramos na presença de um agrupamento de micro relatos todos unidos pelo mesmo tema: a refeição de Jesus na casa de um dos chefes dos fariseus. Quanto ao espaço encontramos-nos dentro da casa do fariseu; o tempo encontramo-lo quando se faz referência ao dia de sábado. Pórtico de entrada: Jesus entra na casa do chefe do fariseu (Lc 14,1), onde começa um discurso sobre as condições para participar do banquete escatológico; pórtico de saída: a sequência acaba com o versículo 24 uma vez que, se continuarmos adiante, muda-se de tema: Jesus acompanhado pelas multidões e as condições para seguí-lo, fora do contexto do banquete e da casa (14,25ss). Lugar em que se situa dentro do contexto do Evangelho de Lucas: subida progressiva de Jesus para Jerusalém. Lucas, neste contexto, afasta-se de Mateus e Marcos ao apresentar a subida de Jesus para Jerusalém num único bloco (9,51 – 18,14).
A sequência é caracterizada pelo agrupamento de quatro micro-relatos: no primeiro (vv. 1-6) Jesus entra na casa de um dos chefes dos fariseus no dia de sábado para tomar uma refeição. Encontramos também vários convivas fariseus e legistas e um hidrópico, a quem Jesus cura suscitando contradição por o ter feito no dia de sábado. Com o segundo micro-relato começa o discurso e as parábolas de Jesus aos legistas e fariseus sobre as condições para participar no banquete escatológico, o do Reino dos Céus (v. 15). É necessário escolher sempre o último lugar para ser exaltado no tempo oportuno (vv. 7-11); não são somente os ricos que devem participar neste banquete de modo a receber deles uma retribuição, mas sobretudo aqueles que não têm nada com que retribuir, para assim ser recompensado na ressurreição dos justos (vv. 12-14); a recusa dos convidados faz com que o convite se estenda a todos os que inicialmente não o tinham sido e que agora entram no banquete (vv. 15-24): são estes os pobres e os “impuros” em Israel (os das praças e ruas da cidade, v. 21) e os pagãos (os dos caminhos e trilhas fora da cidade, v. 23).

Micro-relato Lc 14, 1-6:
1“Certo sábado, ele entrou na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição, e eles o espiavam. 2Eis que um hidrópico estava ali, diante dele. 3Tomando a palavra, Jesus disse aos legistas e fariseus: “É lícito ou não curar no sábado?”. 4Eles porém ficaram calados. Tomou-o então, curou-o e despediu-o. 5Depois perguntou-lhes: “Qual de vós, se seu filho ou seu boi cai num poço, não o retira imediatamente em dia de sábado?”. 6Diante disso, nada lhe puderam replicar”.

Esquema quinário
1. Situação inicial: v. 1-2. Jesus entra, no sábado, na casa de um dos chefes dos fariseus para tomar uma refeição. Temos o hidrópico e os convivas que “espiavam” Jesus, atentos para ver o que ele iria fazer.
2. Nó: v. 3-4a. Aparece aqui o centro da questão, a partir do qual se desenvolve este micro-relato: o questionamento de Jesus sobre a licitude da cura no sábado, diante do qual os convivas ficam calados por não saberem responder.
3. Acção transformadora: v. 4b. Jesus cura o hidrópico.
4. Desenlace: v. 5. Jesus interroga novamente os convivas pondo em relevo a sua hipocrisia (Cf. Lc 13,15) relativamente à questão da cura no sábado.
5. Situação final: v. 6. O silêncio dos convivas.

Tipo de intriga
Estamos aqui num tipo de intriga da ordem da revelação. A chave de leitura está em Lc 14, 5: Cristo revela-se como o Aquele que tem o poder de curar no sábado, porque ele é o Senhor do sábado. Mas ao mesmo tempo temos uma intriga da ordem da resolução: a cura do hidrópico.

Análise das personagens Jesus: personagem principal.
 Chefe dos fariseus: poderíamos dizer que ele é simpático, porque devia ter convidado Jesus à sua casa para tomar uma refeição juntos. Mas, durante o relato, assume um carácter passivo porque não intervém nunca.
 Os outros convidados fariseus e os legistas: eles também assumem uma posição passiva relativamente ao que se está a passar: espiam (v. 1) e ficam calados (v. 4. 6). Poder-se-ia dizer também que, juntamente com o chefe, são opositores, mas isso é implícito porque de facto eles não querem que Jesus realize este milagre no sábado, mas não o manifestam explicitamente.
 O hidrópico: passivo, recebe a cura e volta para casa.

Análise do Espaço
 Político: Jesus a caminho Jerusalém, e portanto nas regiões da Galiléia e Samaria, governadas pelo tetrarca Herodes Antipas, que reinou de 4 a. C. até 39 d.C. (Cf. Mt 2,1).
 Topográfico: dentro da casa do fariseu, lugar privilegiado por Jesus para desenvolver o seu ministério.
 Arquitetónica: Também a casa, e portanto dentro dum espaço caracterizado por linhas circulares.

Leitura do espaço relativamente a Jesus
Formas preposicionais
v. 1 Para a casa (εἰς οἶκόν) de um chefe dos fariseus
v. 2 Estava um hidrópico diante dele (ἔμπροσθεν αὐτοῦ)
Formas verbais
v. 1 Ao ir para a casa (ἐν τῷ ἐλθεῖν αὐτὸν εἰς οἶκόν)
v. 2 Estava um hipódrico (καὶ ἰδοὺ ἄνθρωπός τις ἦν ὑδρωπικὸς) diante dele
v 4 E tomando-o curou-o e despediu-o (καὶ ἐπιλαβόμενος ἰάσατο αὐτὸν καὶ ἀπέλυσεν)

Análise do Tempo
O tempo é factual, por ser de sábado. Conforme o espaço de tempo entre a história contada e o tempo em que ela se realiza, o modelo utilizado sofre variações. Assim no princípio temos o sumário (vv. 1-2), porque o tempo do relato (certo sábado...v. 1) é maior do que o tempo da história. Segue-se a cena, porque começa o discurso (vv. 2-6), onde entre o tempo da história contada e o tempo da história há uma identificação.

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