quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O Jesus de São Mateus vs a Torá do Sinai segundo Rabi Jacob Neusner

“La Torá era y es perfecta y no puede mejorarse, y que el judaísmo edificado sobre la Torá y los profetas y los escritos (...) ese judaísmo era y sigue siendo la voluntad de Dios para la humanidad”

In, Mi debate con el Papa por Jacob Neusner
(
http://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/147421?sp=y)


O livro do rabino Jacob Neusner, Um rabino fala com Jesus, com o qual Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, dialoga no seu livro Jesus de Nazaré, situa o mesmo rabino no tempo de Jesus, tendo como base e ponto de partida o Evangelho de São Mateus por o considerar o mais judaico de todos, sendo o de São São João o mais anti-judaico uma vez que este denota um grande ódio ao judeus. Poderíamos tentar rebater esta ideia do Rabino Neusner em dois pontos, pois o Evangelho de São Mateus, como sabemos, é uma apologia de Jesus que O situa como o novo Moisés, como o novo e definitivo David e ainda como o Messias de Deus n’O qual se cumprem a promessa e a Aliança (nova) de Deus. No sentido, em que é uma apologia do cristianismo, face às acusações que os judeus levantavam aos cristãos, poderíamos dizer que o Evangelho de Mateus é, neste sentido, o mais “anti-judaico”, pois pretende pôr em questão aquilo que o judaísmo só poderia negar: um Messias crucificado e desconhecido de todos. Enquanto que o Evangelho de São João, escrito fora de Jerusalém e atribuído a São João, se encontra organizado de um modus operandi profundamente judaico basta pensar para isso que este IV Evangelho se encontra temporal e geograficamente estruturado com base nas mais importantes festas judaicas; os motivos são eminentemente judaicos; a simbologia e a numerologia; as referências bíblicas fundamentais. Assim sendo, o IV Evangelho, não tendo um estilo marcadamente apologético ainda que também o seja, seria tão ou até mais judaico que o do próprio São Mateus, mas não podemos afirmar de todo tal conclusão.
Mais importante que esta questão, pois ambos os Evangelhos são em certo sentido judaicos mas ao mesmo tempo são a sua superação e cumprimento. O importante aqui é o facto de Jacob Neusner escolher e reconhecer no seu diálogo que o Evangelho de São Mateus é profundamente judaico, ou seja, que se situa num diálogo apologético com o judaísmo. Mas o que está na origem do cristianismo é um encontro com Jesus (p.41), e como tal aqui reside a sua diferença essencial. Assim procuramos nesta síntese pôr em evidência as razões fundamentais pelas quais Neusner não seguiria Jesus e se manteria fiel ao Israel Eterno. Razões estas que nos provocam enquanto cristãos e enquanto leitores de São Mateus, pois é daí que o rabino Neusner parte, ou seja, dos ensinamentos contidos no Evangelho de São Mateus, principalmente, no Sermão da Montanha.
Jacob Neusner considera que quando Jesus sobe ao monte para iniciar o Seu Sermão da Montanha (Mt 5-7), assim chamado, comporta-se como um Rabino para falar sobre a Torá, mas para o rabino Neusner há que distinguir nos sentidos quando dizemos ‘torá’ ou ‘Torá’, pois quando dizemos ‘Torá’, com letra maiúscula, falamos da revelação de Deus; quando falamo de ‘torá’ falamos do ensinamento de Moisés (p.43). Ora, segundo Neusner a torá de Jesus não é a torá Moisés. Na verdade, há um grande equívoco neste aspecto, pois a Torá é o critério de verdade legítimo para contestar Jesus, porque a Torá é o contrário dos Seus ensinamentos (pp.44-45). Ora, a Torá é a norma/critério para um debate sério entre o judaísmo e o cristianismo, por três razões: a) o que está em causa é saber se os ensinamentos de Jesus fazem parte da Torá; b) a crítica/discussão faz parte da Torá, do seu estudo, sendo o Talmude da Babilónia um exemplo disso mesmo, ou seja, da dimensão racional e razoável da fé do Israel Eterno como lhe chama Nuesner (pp.50-53); c) É necessário ter consciência de que para alguns Jesus é Deus encarnado, por isso não é sincero oferecer um posto no juadaísmo (mestre, rabino, profeta etc) a Jesus, ao mesmo tempo que a Torá deve ser identificada com o juadaísmo (pp.55-56). Neusner considera em primeiro lugar que no Sermão da Montanha encontram-se os ensinamentos (torá) de Jesus com os quais se pode dialogar (pp.59-60). No entanto afirma a Torá do Sinai contra o Jesus de Mateus, porque na verdade Jesus ensina a Sua Torá. Ora, é preciso ter em atenção o aspecto de que ‘Torá’ está em maiúsculas, pois Neusner pretende já evidenciar a diferença, ou seja, Jesus coloca-se numa posição de afastamento do judaísmo, pois a Sua Torá pretende superar a Torá do Israel Eterno e ao mesmo tempo que se quer dizer Divina (p.60). Contudo Jacob Neusner considera que Jesus, na sua ‘torá’ manda violar três mandamentos da Torá judaica.
Neusner refere que quando cumpro os mandamentos, aceito a autoridade de Deus e por isso vivo no Seu Reino, ou seja, vivo aqui na terra o Reino de Deus, isto é, uma vida santa. Ora, na Torá de Jesus existem partes coincidentes com a fé de Israel. Assim, considera Neusner que o Sermão da Montanha está em consonância com a Torá, por isso porque razão haveriam de ser perseguidos por seguir Jesus, pergunta Jacob Neusner? (pp.61-62). Quanto ao completar a Torá, Jacob Neusner entende que esta determinação deve ser entendida na linha da tradição judaica, ou seja, tendo-a recebido tem o dever de a transmitir renovando-a, lendo-a de um modo novo (pp.62-63). Assim, o que Jesus faz é radicalizar, tal como outros sábios de Israel o fizeram, e conduzir ao aprofundamento da Torá (pp.65-66), ou seja, receber e transmitir a Torá ensinando, explicando, ampliando e enriquecendo-a. Na verdade é isto que fazem os Seus ensinamentos (p.68), porque na verdade a Torá não precisa de ser completada. Ela serve ao Israel Eterno tal como foi dada por Deus.
Apesar desta consonância entre a ‘torá’ de Jesus e a Torá dada ao Israel Eterno, há um elemento que no discurso de Jesus parece estar em contradição com o ensinamento da Torá: não resistir ao mal. Ora, é um dever religioso oferecer resistência ao mal. Amar a Deus e resistir ao Seus inimigos. A Torá nada diz sobre a não resistência ao mal, pois segundo Neusner «a passividade frente ao mal serve a causa do mal», antes pelo contrário a Torá aprova a guerra e o poder legítimo (p.68). Por isso é surpreendente a afirmação de Jesus sobre a não-resistência ao mal (p.68). Com isso não se pense que existe na Torá um mandamento para odiar os inimigos, porque não existe. O que existe na torá dos rabinos é um apelo a que se odeie o mal não quem o pratica (p.69). Mas os inimigos de Deus são outra coisa e contra esses a Torá diz-nos para lutar contra eles (p.69).
Relativamente a este aspecto Neusner considera que Jesus no seu Sermão não estava a falar na justiça pública, mas na relação dos discípulos entre si (p.69). Jesus não se dirige ao Israel Eterno, que é um povo, uma nação (constituída no Sinai), uma sociedade, mas aos seus discípulos (p.70). Jesus não fala para a comunidade, para o Estado, para uma ordem social duradoura como a compreende o Israel Eterno, mas para um conjunto de pessoas (p.70). No fundo, diz-nos Neusner, espera-se de Jesus uma mensagem para o Povo de Deus, não para um grupo de pessoas que até fazem parte do Israel Eterno. O que é contraditório é que o conteúdo da mensagem de Jesus é da ordem do indivíduo, ou seja, é individual. Mas, e aqui está uma razão para não seguir Jesus, o Israel Eterno possui um ensinamento (‘torá’) que diz que Deus quer o bem do Seu Povo (p.71). Ora, o equívoco de Jesus está na passagem do ‘Nós’ para o ‘eu’ em particular no seu ensinamento (‘torá’).
Um mestre da Torá é julgado pela Torá (p.71). Neste sentido, considera o rabino Neusner, o que é desconcertante é quem um mestre da Torá diga em Seu nome o que a Torá diz em nome de Deus. Pois, uma coisa é ensinar um aspecto da Torá outra coisa é a Torá dizer uma coisa e eu dizer outra, e Jesus faz precisamente isso: «eu porém digo…». Jesus anuncia em próprio nome o que Deus propõe no Sinai (p.71-72), ou seja, que espécie de ensinamento (‘torá’) é este que melhora a Torá sem reconhecer a fonte – Deus – desse ensinamento, pergunta Neusner (p.72). Jesus coloca-se no lugar de Deus e no lugar da Torá (dirá Bento XVI que Jesus é a nova Torá confirmando assim as suspeitas do rabino Neusner). Por isso, o que preocupa não é a mensagem, mas o mensageiro que não se apresenta como um sábio nem como profeta (p.72), que «ensina como quem tem autoridade» ao contrário de Moisés, cuja autoridade vem de Deus. Jesus parece colocar-se no lugar da Torá (p.73). Por isso não é a Sua mensagem que está em causa, mas Ele próprio (p.73), porque no Sinai Deus falou por Moisés, no Monte, ao qual Jesus subiu para proferir o Seu discurso, Jesus fala em nome próprio (p.73). Neste monte, alerta Neusner, Jesus fala não ao Israel eterno, mas a ouvintes específicos, e fala não como os escribas (os de fora) [‘deles’, é um acrescento, pois conta no Evangelho de Mateus, nosso do qual Neusner está consciente] mas com quem tem autoridade (p.73).
No Sermão Jesus ao falar dos mandamentos fala referindo-se à vida privada, à consciência, por isso o ensinamento de Jesus vai contra o que somos e quem somos – o Israel Eterno – comunidade de famílias, Povo de Deus (Qahal) (p.80). O Sermão da Montanha dirige-se à consciência individual, mas a dimensão da comunidade e da família ficam omitidas. Ao mesmo tempo que a oração nesta ‘torá’ de Jesus representam só a vida interior (p.81). Mas existem pois dois mandamentos que dizem respeito à comunidade: santificar o sábado (3º) e honrar pai e mãe (4º) (p.83). Jesus manda violar precisamente estes dois mandamentos. No 3º mandamento está em causa a santificação do espaço na natureza, o que o parece pôr em causa no discurso de Jesus está afirmado em Mateus 10, 34-37 em que Jesus afirma que não veio trazer a paz, mas a espada e que o filho vai ser separado do pai (p.84). Relativamente ao 4º mandamento Jacob Neusner refere que Jesus manda violar este mandamento quando impõe como condição para o seguir que seja necessário deixar pai e mãe, irmãos e irmãs, ou seja tenho de pôr esse chamamento acima do amor dos pais, dos irmãos. Então onde fica o Israel Eterno, pergunta Neusner? Para seguir Jesus tenho de violar um dos mandamentos? (p.84).
Em síntese as razões pelas quais Neusner não seguiria Jesus e se manteria fiel ao Israel Eterno, devem-se em primeiro lugar ao facto de Jesus apresentar uma Torá em nada coincidente com a Torá dada por Deus ao Israel Eterno, antes pelo contrário Jesus, pondo-se no lugar de Deus, apresenta uma Torá que visa a substituição daquela que Deus deu a Moisés. Ao mesmo tempo esta Torá de Jesus não se dirige ao Israel Eterno, antes se dirige ao indivíduo que deve seguir Jesus mesmo que para isso seja necessário violar um dos mandamentos ou vários (3º, 4º). Esta é uma ‘torá’ que nada tem que ver com o Israel Eterno por isso não pode ser possível segui-la pois ela visa não o aprofundamento do Torá do Sinai, mas a sua superação, a sua substituição. Segui-la seria negar o Israel Eterno, ao qual o rabino Jacob Neusner considera dever permanecer fiel.

1 comentário:

  1. Jesus nunca disse pra não se defender!!

    Mas é inegável que os pobres sempre sofrem, sempre são marginalizados, sempre vão ser injustiçados, isso nunca vai mudar.

    Por isso a perspectiva de Yeshua não é pra esse mundo, e sim para o mundo vindouro.

    Não adianta correr, o mal, o pecado sempre existirá no mundo. E por isso sempre haverá sofrimentos.

    Você conhece o apostolo Paulo?

    Sabe o quanto ele se defendeu?? Leia o livro dos Atos dos apóstolos!!


    Por isso Yeshua diz:

    "Mas quando os prenderem, não se preocupem quanto ao que dizer, ou como dizer. Naquela hora lhes será dado o que dizer,
    pois não serão vocês que estarão falando, mas o Espírito do Pai de vocês falará por intermédio de vocês".

    Mateus 10:19-20
    E diz também:

    "Quando pois vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra;"
    Mateus 10:23

    Se fosse por isso meu caro os profetas do povo de Israel nunca teriam morrido. E a maioria foi morto pelo próprio povo judeu.E olha que eram considerados a "boca de Yhaveh"

    Jesus nunca aboliu a Lei de D-us!!
    Em Mateus 5:17-18, Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas, não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo, até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”

    Você quer saber que lei Cristo aboliu, então leia:
    http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1410629

    Jesus tinha sim seus próprio ensinamentos, mas tudo vinha do Pai, como ele mesmo cansou de dizer:
    Jesus respondeu: "O meu ensino não é de mim mesmo. Vem daquele que me enviou.
    Se alguém decidir fazer a vontade de Deus, descobrirá se o meu ensino vem de Deus ou se falo por mim mesmo." (João 7:16-17)

    Os judeus esperam um Messias autoritário, que vai obrigar a todos a adorar o D-us de Israel, mas sabemso que D-us não obriga ninguém a crer Nele.

    Yeshua veio para implantar o amor de D-us em nossos corações, a lei em nosso corações, como o profeta Jeremias havia dito sobre a nova aliança:
    "Estão chegando os dias",
    declara o Senhor, "quando farei uma nova aliança com a comunidade de Israel e com a comunidade de Judá".
    "Não será como a aliança que fiz com os seus antepassados quando os tomei pela mão para tirá-los do Egito; porque quebraram a minha aliança, apesar de eu ser o Senhor deles", diz o Senhor.
    "Esta é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias", declara o Senhor: "Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o Deus deles, e eles serão o meu povo.
    Jeremias 31:31-33

    Yeshua disse:

    " "Mestre, qual é o maior mandamento da Lei? "
    Respondeu Jesus: " ‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’.
    Este é o primeiro e maior mandamento.
    E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’.
    Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas".
    Mateus 22:36-40

    Quem ama a D-us de todo o seu coração, mente e força, cumpre com os 4 primeiros mandamentos.

    Quem ama o seu próximo como a si mesmo, cumpre os 6 últimos mandamentos do decálogo.

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