quarta-feira, 29 de setembro de 2010

uma narrativa com Lucas [Lc 14,1-6]

Alguns elementos da intriga

Debrucemos o nosso olhar para este relato bíblico de Lucas. Nele somos presenciados por uma narração que situa o leitor no meio de um banquete e, convidando-o a enquadra-se na problemática suscitada por Jesus, o leva a acompanhar a mudança de “olhares” realizada naqueles convivas. Estamos a um “certo sábado”, na “casa de um dos chefes dos fariseus”, onde se encontravam Jesus, legistas, fariseus e um hidrópico, em que o tema inicial desenhado pelos diálogos é saber se é lícito ou não curar ao sábado.

Esquema Quinário - sua aplicação e explicação

  • Situação inicial - Lc 14,1

Encontramos neste versículo um verdadeiro “pórtico de entrada” para esta narração. Nele encontramos o dia, o lugar e as personagens que inicialmente se encontram naquele banquete.

  • - Lc 14,2

Eis o porquê desta narração. É a presença deste homem que desencadeará a interpelação vital de Jesus aos que com ele se encontram e o consequente milagre, que aqui funcionará como resposta.

  • Acção transformadora - Lc 14,3

“É lícito ou não curar no sábado?” O debate está lançado e uma pergunta destas só pede uma coisa, a resposta, e ainda por cima era sábado. De facto, esta pergunta, aliada à presença daquele homem, conduz os interlocutores de Jesus a procurarem uma resposta, a procurarem argumentação, a rever as suas posições gerando uma autêntica acção transformadora.

  • Desenlace - Lc 14,4-5

Aqui encontramos a resposta a tão grande interpelação. Por um lado, é o silêncio de quem não se quer comprometer, por outro lado é a cura do hidrópico e uma nova interpelação que justifica este acto.

  • Situação final - Lc 14,6

“Diante disso, nada lhe puderam replicar”. É a confirmação e o reconhecimento da acção de Jesus, e a resposta ao problema de curar ao sábado.

Descrição das personagens

  • Jesus

Jesus apresenta-se como a personagem principal da presente acção, o verdadeiro convidado de honra deste banquete, que assume um lugar de destaque onde todas as atenções se centram.

  • Hidrópico

Este homem é uma personagem adjuvante. Sendo o beneficiário do milagre e, apesar de adoptar um papel secundário na narração, é por ele que Jesus faz os interlocutores compreenderem que o amor ao homem está a cima das limitações da lei.

  • Legalistas e fariseus

Estes comensais, que estavam com Jesus na casa de um dos chefes dos fariseus, são as personagens que ouviram a questão levantada por Jesus e, com o desenrolar da situação, se encontram com os olhos e ouvidos abertos aquilo que Jesus lhes diz e mostra. Se num segundo momento estes homens ficaram mergulhados num silêncio sem argumentos, isto demonstra que se verificou, se não uma mudança das suas posições, pelo menos um questionar das suas concepções legais e doutrinais. Assim, estes homens comportam-se como personagens redondas da acção.

Qualificação da intriga

Perante este desenvolvimento e desenlace narrativo apresentado pelo autor, compreendemos que estamos perante uma intriga maioritariamente de revelação. De facto, o modo como ela termina traz uma nova compreensão do Sábado, da dignidade e valor homem sobre as leis, aqueles convivas reunidos na casa daquele fariseu. A cura cura operada por Jesus é a afirmação disto mesmo e a resposta reveladora à questão suscitada: “é lícito ou não curar no sábado?”

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