«13E tornou a sair para o mar, e toda a multidão ia ter com ele, e ele os ensinava. 14E, passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na recebedoria, e disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, o seguiu.
15E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido. 16E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores? 17E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores ao arrependimento.»
A narrativa acelerada do evangelista Marcos, parece-me, coloca cada versículo como um micro-relato. Usando o critério tempo, espaço, personagens e tema, vejamos:
A indefinição temporal está presente nesta sequência de micro-relatos. Mas não é por este motivo que não conseguimos distingui-los.
O versículo 13 apresenta como espaço o mar [da Galileia]; Jesus e toda a multidão são as personagens; e o tema é a pregação.
No versículo 14, há uma mudança de espaço. Não foi explicitado qual a localização mas parece-nos que se ia a passar é porque estava no caminho. Levi, o Filho de Alfeu, sentado no posto de cobrança é a personagem que entra em cena e o chamamento está bem patente no discurso directo: “Segue-me”.
O versículo 15 muda novamente o espaço e agora estão à mesa, em casa de Levi. Acresce o número de personagens, “muitos publicanos e pecadores” e os discípulos. O tema, presume-me, que seja a refeição.
Podíamos muito bem prolongar os versículos16-17 ao anterior. Mas, não o fizemos porque achamos que entram em cena novas personagens: os escribas e fariseus, que não vieram para se juntar ao banquete mas para instigarem contra Jesus. A resposta à provocação dos escribas (v.17) é o reforço deste nosso argumento.
Neste trecho de Marcos o narrador é hetero-diegético. Não nos coloca muito a par da reacção das personagens, mas dá outras informações pertinentes (ex: “eram muitos os que o seguiam”). Jesus é uma personagem plana, porque não sofre alterações quanto à sua posição na narrativa. Ao contrário, a multidão é redonda já que ficou instruída pelo ensinamento que Dele. Levi é o maior exemplo de transformação comportamental (de cobrador de impostos passa a discípulo de Jesus; estava sentado e põe-se a caminho). Também os escribas acabam por aparecer como personagens redondas, como costuma acontecer noutras passagens. Estes são também os únicos opositores. Levi e a multidão colocam-se na posição de adjuvante.
Aqui e agora! Esta é uma possível divisão de uma sequência em micro-relatos.
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