domingo, 26 de setembro de 2010

Confrontação da passagem da “Tempestade Acalmada” entre os Evangelhos Sinópticos

-Contextualização Sucinta Das Passagens:

Estas três passagens relatam, uma das travessias do de Tibríades, cujas personagens são Jesus e os discípulos que o acompanhavam.

A narrativa desenvolve, e relata uma tempestade de tal forma violenta, que levou os discípulos a temerem pelas suas vidas. Aflitos recorrem a Jesus, que dormia na embarcação, para que os socorresse. Então, Jesus acorda e acalma a tempestade. Tal gesto cobriu os discípulos de espanto e admiração.

-Análise Das Passagens:

1- No que diz respeito ao inicio dos relatos da viagem, deparamo-nos com algumas diferenças no que concerne aos detalhes onde Marcos relata de uma forma mais pormenorizada que Mateus e Lucas, contradizendo com o que se constata na visão global dos três evangelhos:

Mateus

23Depois subiu para o barco e os discípulos seguiram-no.

Marcos

35Naquele dia, ao entardecer, disse: «Passemos para a outra margem.» 36Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco onde estava; e havia outras embarcações com Ele.

Lucas

22Certo dia, Jesus subiu com os seus discípulos para um barco e disse-lhes: «Passemos à outra margem do lago.» E fizeram-se ao largo.

Como podemos ver Mateus é o mais breve. Já Marcos e Lucas fornecem-nos uma informação temporal, ainda que subjectiva; assim bem como uma fala de Jesus a dirigir-se aos discípulos; em Mateus tal não se verifica. O relato de Marcos ainda se distingue dos outros dois, por ser o único a fazer alusão a “outras embarcações”.

2-No que diz respeito à discrição da cena da tempestade, mais uma vez é Marcos quem nos fornece mais informação, quer dos pormenores da tempestade, quer do momento em que Jesus dormia. Em Lucas é-nos dado logo ao início, a informação de que enquanto navegavam Jesus adormeceu, só depois refere “turbilhão de vento” que os deixou em “perigo”. Já Mateus e Marcos começam por referir que se levantou uma tempestade, seguida da descrição da mesma. Só no fim vem a referência de que Jesus dormia.

Mateus

24Levantou-se, então, no mar, uma tempestade tão violenta, que as ondas cobriam o barco; entretanto, Jesus dormia.

Marcos

37Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que este já estava quase cheio de água. 38Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada.

Lucas

23Enquanto navegavam, adormeceu. Um turbilhão de vento caiu sobre o lago, e eles ficaram inundados e em perigo.

Como podemos ver em Marcos dá-nos uma imagem mais concreta da situação quer na descrição da tempestade, quer na descrição de Jesus a dormir, dando-nos pormenor do local onde Jesus dormia, especificando que Jesus dormia “sobre uma almofada”.

3-No momento em que os discípulos despertaram Jesus, enquanto Mateus e Lucas colocam o acto de acordar Jesus, em dois tempos (Aproximaram-se e despertaram-no) seguindo-se de uma frase exclamativa (a de que estão em perigo); em Marcos faz a aproximação em um tempo seguido de uma interrogação (a de que se Jesus não se importa com facto de estarem em perigo).

Mateus

25Aproximando-se dele, os discípulos despertaram-no, dizendo-lhe: «Senhor, salva-nos, que perecemos!»

Marcos

39Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?»

Lucas

24Aproximaram-se dele e, despertando-o, disseram: «Mestre, Mestre, estamos perdidos!»

4-Neste fragmento do relato Mateus começa por se distinguir de Marcos e Lucas ao colocar Jesus a interrogar primeiramente a fé dos discípulos, só posteriormente dá ordem para que a tempestade amaine. Apesar da sequência ser diferente num deles, os três referem a forma imperiosa, ou ameaçadora com que Jesus ordena aos elementos naturais que se acalmem. Mas Marcos mais uma vez é o único que coloca as palavra proferidas por Jesus («Cala-te, acalma-te!»).

Mateus

26Disse-lhes Ele: «Porque temeis, homens de pouca fé?» Então, levantando-se, falou imperiosamente aos ventos e ao mar, e sobreveio uma grande calma.

Marcos

Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma.

40Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?»

Marcos

E Ele, levantando-se, ameaçou o vento e as águas, que se acalmaram; e veio a bonança. 25Disse-lhes depois: «Onde está a vossa fé?»

5- O relato conclui-se com o pasmo dos discípulos perante tal fenómeno. Mateus refere a admiração dos discípulos, enquanto Marcos destaca o temor, por sua vez, Lucas refere ambos os sentimentos. Só em Marcos e Lucas é referida a interrogação que foi feita entre os homens, dando a sensação de espanto e pelo que lhes parecia ser inacreditável no que acontecera, em Mateus apenas é referida o levantamento da dúvida.

Mateus

27Os homens, admirados, diziam: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»

Marcos

41E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»

Lucas

Cheios de medo e admirados, diziam entre eles: «Quem é este homem, que até manda nos ventos e nas águas, e eles obedecem-lhe?»

-Em forma de conclusão podemos ver que apesar da semelhança entre os textos, (onde o espaço, os personagens e a temática coincidem entre eles), há particularidades que os distinguem, onde uns realçam mais um aspecto que outro, certamente fruto de uma “leitura” feita à luz da fé com que receberam e assimilaram a vida de Jesus.

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